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Supermercado educativo

Publicado: Segunda, 18 de Setembro de 2023, 18h55 | Última atualização em Terça, 19 de Setembro de 2023, 19h22 | Acessos: 974

Pesquisa utiliza espaço para o ensino de Botânica

#ParaTodosVerem: Fotografia de uma série de vegetais em exposição.
#ParaTodosVerem: Fotografia de uma série de vegetais em exposição.

Por Bruno Roberto Foto: Mark Stebnicki (Pexels)

A “cegueira botânica” consiste na incapacidade de os seres humanos perceberem os vegetais no ambiente à sua volta. Wandersee e Schussler, os dois autores do conceito, defendem que a causa para a cegueira está na neurofisiologia, uma vez que o sistema nervoso humano dá mais atenção para elementos em movimento ou que representem perigos. Logo as plantas, seres estáticos e silenciosos, são vistas como plano de fundo.

“Quando mostramos uma imagem para os alunos, de um leão na savana ou de uma onça na floresta amazônica, e perguntamos o que eles estão vendo, normalmente eles falam do animal. Eles não dão atenção às plantas. A cegueira botânica pode, inclusive, fazer com que os estudantes imaginem que é possível viver no planeta sem os vegetais”, relata Rogério Silva e Silva, professor de Biologia.

Essa cegueira sofrida pelos alunos é intensificada com o método de ensino tradicional de Biologia nas escolas, o qual acaba gerando desinteresse pelos conteúdos. Esse ponto de vista é defendido na dissertação Supermercado como espaço não formal para o ensino de Botânica: sequência didática para aprendizagem ativa no ensino médio, produzida pelo Rogério Silva.

 A pesquisa explica que os conteúdos de Biologia, geralmente, são apresentados de forma descritiva e teórica, com aulas repletas de vocábulos não usuais e sem o uso de tecnologias. Além disso, o autor destaca que as metodologias aplicadas no ensino médio são voltadas para responder provas de vestibular, em detrimento da finalidade educativa. Dessa forma, o aluno se mantém como um agente passivo no processo de ensino-aprendizagem.

Uma das formas de tornar o ensino mais atraente é por meio de aulas práticas, como fez o professor em uma turma de ensino médio. O objetivo do pesquisador era elaborar um produto educacional com base em uma metodologia inovadora, que utilizasse um supermercado como espaço de ensino ativo de Botânica. A ideia precisou ser adaptada, pois a pandemia da covid-19 impediu a ida ao estabelecimento escolhido. “Nós tivemos que criar um supermercado virtual e levá-lo até os alunos por meio de fotografias e slides”, explica Rogério Silva.

Espaços fora da escola quebram paradigmas de ensino 

O estudo apresenta dois espaços de ensino: os formais, como as escolas; e os não formais, sejam institucionalizados (bosques, museus, planetários), sejam não institucionalizados (mercados, feiras, praças), que podem promover o processo de ensino-aprendizagem. Os locais fora da escola são considerados importantes para quebrar os paradigmas convencionais de ensino.

“A vantagem dos espaços não formais não institucionalizados é a facilidade de acesso. Não precisa de uma grande logística para promover esse deslocamento e os ganhos são significativos, porque a aula se torna mais prazerosa. Mas os ambientes institucionalizados continuam sendo boas opções para melhorar o processo de ensino-aprendizagem”, explica o professor Rogério Silva.

O espaço não formal escolhido para a pesquisa foi um supermercado, em virtude da variedade de itens alimentícios de origem vegetal. Rogério Silva disponibilizou uma videoaula sobre morfologia vegetal, a fim de abordar conceitos, estruturas e funções de órgãos vegetais, e dividiu os alunos em cinco grupos. Cada grupo ficou responsável por uma seção do estabelecimento localizado na cidade de Castanhal (PA).

Os grupos precisaram identificar quais alimentos eram de origem vegetal nas imagens fotografadas por Rogério, no supermercado. Em seguida, os estudantes preencheram fichas com algumas características dos alimentos identificados, como o nome científico, a origem e a importância nutricional. Por fim, cada grupo apresentou um mapa mental sobre a temática “A Morfologia Vegetal em nosso Cotidiano”.

O estudo destaca o uso de uma sequência didática, definida como um conjunto de atividades ordenadas que trabalham os conteúdos de forma integrada, reunindo diversos recursos, como aulas expositivas, dialogadas e práticas, leituras de texto, atividades em grupo e usos de espaços não formais.

Atividades propostas potencializaram conhecimentos

O pesquisador aplicou questionários antes e depois da sequência didática, com o objetivo de analisar o conhecimento dos alunos sobre morfologia vegetal e botânica. Com base nas respostas, observa-se uma potencialização dos conhecimentos prévios dos estudantes. A dissertação destaca maior compreensão acerca da importância das plantas no planeta.

Os alunos passaram a entender que os vegetais não servem apenas como alimento, mas são necessários para o lazer, a moradia, enfim, a vida na terra. O interesse pelo conteúdo também aumentou. Na pergunta “Você gosta de estudar botânica?”, o número de estudantes que responderam “gosto” e “gosto muito” subiu. Além disso, foi ampliado o conhecimento sobre quais órgãos das plantas são usados na alimentação.

A respeito da avaliação dos alunos, a pesquisa considerou que a aceitação da estratégia pedagógica usada foi excelente. A maioria dos participantes respondeu que a metodologia “Botânica no supermercado” facilitou o aprendizado do conteúdo e que gostou de ver a importância das plantas no dia a dia. Quando questionados se os espaços não formais facilitam o processo de ensino, as opções mais selecionadas foram “sim” e “talvez”.

Por outro lado, Rogério pontua que a necessidade de as aulas serem on-line dificultou o andamento das atividades, pois era necessário um acesso à internet de qualidade. “Temos consciência de que, se a atividade tivesse sido feita presencialmente, teríamos resultados ainda melhores”, conclui o professor.

Sobre a pesquisa: A dissertação Supermercado como espaço não formal para o ensino de Botânica: sequência didática para aprendizagem ativa no ensino médio foi defendida em 2022, por Rogério Silva, no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Biologia (PROFBIO/ICB) da UFPA, sob orientação da professora Sílvia Fernanda Mardegan.

Beira do Rio edição 168

 

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