Opinião:  A COP 30 e a UFPA

Por Carlos Potiara Castro Foto Acervo pessoal

A comunidade universitária da UFPA conviverá, em novembro de 2025, com um influxo importante de várias categorias de participantes da 30^a Conferência das Partes Signatárias da Convenção do Clima (1). Serão realizados eventos paralelos marcantes que reunirão milhares de delegados e delegadas de entidades representativas dos principais movimentos sociais e ambientalistas do mundo.

Nas COPs, há também a presença de representantes de grandes empresas, inclusive as mais poluentes, que tentam fazer lobby a favor de seus interesses setoriais, muitos deles contrários aos planos de redução de emissões de gases de efeito estufa. Será uma miríade de atores sociais que constituem, em última instância, o universo internacionalista hoje. Afinal, esses atores são agentes que atuam na esfera internacional em um mundo globalizado, indo muito além daquilo que é praticado pela diplomacia stricto sensu.

A Amazônia, pela importância que tem na esfera internacional, não pode prescindir de participar, por meio de sua sociedade e de suas instituições, dos debates das relações internacionais, pois corre o risco de ser alijada de processos decisórios estratégicos para a região. E a Universidade Federal do Pará, pelo peso que possui no mundo acadêmico, não deveria deixar de buscar liderar o ensino, a pesquisa e a extensão nesse campo do saber, promissor e necessário. Por isso chama atenção a ausência de uma faculdade a ele destinada.

O campo não é novo, pois há faculdades no Brasil que foram criadas ainda nos anos 1970. Mas, mais recentemente, observou-se uma forte expansão nas instituições públicas federais dos cursos de Relações Internacionais. Eles constituem uma das áreas que se alargaram com o processo de criação de novos cursos, ao longo das duas primeiras décadas deste milênio.

Dados do Ministério da Educação (2) mostram que existem, atualmente, em universidades públicas federais, 22 (3) cursos na área, em funcionamento em todo o Brasil, dos quais, 14 (63,6% do total) foram criados no quadriênio de 2008 a 2011, período de maior vigor do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI).

Esforços anteriores já foram realizados para a implementação de um curso de Relações Internacionais na UFPA, com resultados mitigados. Um Programa de Doutorado Interinstitucional (Dinter) celebrado entre a Universidade de Brasília, por intermédio de seu Instituto de Relações Internacionais, e a UFPA permitiu que fosse formada uma turma de doutores em Relações Internacionais, que atuam no campo do ensino e da pesquisa na cidade de Belém. Mas não foi o suficiente para um curso se institucionalizar na Universidade.

É louvável, enfim, o esforço empreendido pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) para fundar o seu curso nessa área, o que é um passo para consolidar esse campo do conhecimento na sociedade amazônida, o que não invalida a necessidade de discutirmos a propriedade de se fomentar a criação de um curso nesse campo do saber no seio da UFPA. O momento é favorável.

 Notas

1. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas é “o fórum internacional intergovernamental primário para negociar a resposta global à mudança do clima”.
2. Fonte: Ministério da Educação, https://emec.mec.gov.br/
3. Sendo 3 na Amazônia Legal, nas instituições UNIFAP, UFRR e UFT.

Carlos Potiara Castro  é professor adjunto da Faculdade de Ciências Sociais da UFPA. É doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas e realizou pós-
-doutoramentos no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Atualmente, coordena o Grupo de Trabalho "Sistema-mundo, capitalismo histórico e crise ambiental global”, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (ANPPAS). E-mail carlospotiara@gmail.com  Lattes:  http://lattes.cnpq.br/3132802376511499

Beira do Rio edição 168