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Língua indígena

Publicado: Sexta, 24 de Maio de 2024, 20h01 | Última atualização em Quinta, 27 de Junho de 2024, 18h17 | Acessos: 300

Estudo acompanha retomada da língua Tenetehar nas aldeias Tembé do Guamá

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Por André Furtado | Foto: Claudia Kahwage/Ideflor-Bio Agência Pará

Presentes no território nacional muito antes da chegada dos europeus, os povos indígenas são reconhecidos como os primeiros habitantes do Brasil. O Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), apontou que a população indígena do país está em 1.693.535 pessoas, representado cerca de 0,83% da população brasileira.

Os povos indígenas brasileiros representam diversas etnias, cada uma com tradições, organização social e idiomas próprios. Contudo, ao longo da história, essa população sofreu com inúmeras intervenções que ameaçaram, principalmente, a sua cultura. Foi considerando esse contexto que a pesquisadora Jaqueline dos Santos Souza investigou a retomada da Língua Indígena Tenetehar (Tembé) nas aldeias do Guamá.

A pesquisa buscou compreender como a retomada da língua Tembé envolveu questões de cunho social, cultural e político. “Percebi que era importante documentar esse momento e dar continuidade às pesquisas iniciadas ainda na graduação, enfocando os processos identitários, buscando entender o papel da escola e sua relação com as formas de territorialização”, ressalta Jaqueline Souza.

Para a dissertação, a professora de Língua Portuguesa optou por realizar seus estudos nas aldeias que trabalham com o ensino da língua Tembé espalhadas pela Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG), nas regiões Guamá e Gurupi. Para a coleta de dados foram feitas entrevistas semiestruturadas com perguntas adequadas ao perfil de cada interlocutor. “No dia marcado para a entrevista eu me apresentava e falava sobre a pesquisa para ganhar a confiança do entrevistado. Geralmente, eles também se apresentavam falando de sua atuação dentro da aldeia”, relata a pesquisadora.

A língua como instrumento de autoafirmação

O estudo apontou que o domínio da língua Tembé pelos indígenas se configura como uma forma de autoafirmação de seu povo, pois acontece junto com a reativação de seus costumes. Segundo a pesquisa, a interação entre o grupo Tembé do Gurupi e o Tembé do Guamá foi fundamental para esse processo. “Falar Tembé é uma forma de legitimar a sua ‘indianidade’, bem como vivenciar os costumes da cultura indígena, visto que a língua nativa de um grupo étnico está impregnada de sentimentos identitários. Os Tembé do Guamá reconhecem no grupo do Gurupi uma espécie de referência no que diz respeito ao domínio da língua e dos costumes culturais Tenetehar mais antigos”, explica Jaqueline Souza.

A pesquisadora afirma que a Escola Félix Tembé possui um papel fundamental nessa retomada cultural, uma vez que promove não só o ensino da língua, como também dos costumes tradicionais. Contudo, Jaqueline Souza faz questão de enfatizar que todo esse processo é protagonizado pelos indígenas. “Diante dos relatos, percebi que os Tembé do Guamá não tinham esquecido sua língua e os conhecimentos que dela advêm e, sim, que ela estava em um estado latente, guardada na memória coletiva. A motivação para a retomada da língua é sociocultural e também espiritual, pois o acesso a esse plano é feito pelos cantos em língua Tembé, portanto, os fatores envolvidos superam a esfera linguística”, destaca a professora.

Jaqueline dos Santos Souza chama atenção para a importância dos pesquisadores e da sociedade civil no empenho e na luta pela garantia dos direitos dessas populações. “Para que a retomada da língua continue tendo sucesso é de suma importância a participação dos Tembé, quem têm domínio de todos os elementos sociais, culturais e religiosos que constituem e sustentam esse processo. E todos nós devemos lutar pela garantia das condições sociais ideais para a reprodução de sua cultura”, finaliza.  

Sobre a pesquisa – A dissertação O processo de retomada da Língua Indígena Tenetehar (Tembé) nas aldeias do Guamá Tiarg foi defendida por Jaqueline dos Santos Souza, em 2023, no Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia (PPLSA), da UFPA. CVLattes: http://lattes.cnpq.br/6659459857909752 Orientação: profa Vanderlúcia da Silva Ponte. 

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