Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Início do conteúdo da página

Meio ambiente

Publicado: Quarta, 14 de Maio de 2025, 19h09 | Última atualização em Terça, 20 de Maio de 2025, 19h34 | Acessos: 15

O papel da sociedade na COP 30

Por Lise Tupiassu | Foto: Acervo pessoal

Em 2025, a cidade de Belém sediará a 30a Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) – COP 30. Trata-se do principal evento global para discutir e negociar ações contra as mudanças climáticas. Embora seu cerne seja uma reunião oficial entre os países signatários da UNFCCC, a COP transcende esse espaço exclusivo, tornando-se o maior fórum de debates ambientais do planeta.

A COP tem origem na Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em 1992 (Rio-92). Desde então, as COPs reúnem, anualmente, representantes dos países para negociar acordos, metas e políticas climáticas.

 O espaço em que ocorre esta reunião é dividido em duas zonas principais. A primeira é chamada de Zona Azul, gerenciada pela ONU, na qual ocorrem as negociações oficiais entre diplomatas e/ ou representantes de governos. O acesso a essa área é restrito aos negociadores e às instituições credenciadas pela ONU na qualidade de “observadoras” das negociações. A outra área é chamada de Zona Verde. Trata-se de um espaço contíguo à Zona Azul, aberto ao público em geral, em que ocorrem exposições, debates e eventos organizados por sociedade civil, empresas, instituições científicas etc.

Embora apenas os representantes dos países tenham poder de voto nas decisões da COP, a conferência se tornou um ecossistema dinâmico em que vozes diversas se encontram. Eventos paralelos, conhecidos como "side events", são fundamentais para ampliar perspectivas, levando conhecimentos tradicionais, como os dos povos amazônicos, e dados científicos para o centro do debate. Esses espaços também servem para influenciar decisões, pois propostas discutidas pela sociedade podem ser incorporadas nas negociações oficiais por meio da pressão da opinião pública junto às delegações. Além disso, campanhas e coalizões formadas durante a COP, muitas vezes, resultam em políticas nacionais ou acordos internacionais futuros, demonstrando o poder da mobilização além das salas de negociação.

 É importante compreendermos, por tanto, que a sociedade não participa diretamente das negociações que ocorrem na Zona Azul da COP. Porém as discussões e as manifestações que ocorrem fora das salas são essenciais. A efetividade das decisões da COP depende de sua implementação nos países, tornando a pressão social determinante. Cientistas, ativistas, povos das águas e das florestas, ONGs e outros atores contribuem de várias formas, produzindo conhecimento que embasa metas mais ambiciosas, apresentando demandas locais e criando narrativas por meio de exposições culturais e protestos que amplificam a urgência climática na mídia, por exemplo.

A iniciativa que vem sendo liderada pela UFPA para a COP 30 é um grande exemplo de como a sociedade pode participar do evento independentemente de ingressar na Zona Azul e de como as universidades podem ser ponte entre saberes tradicionais e políticas globais. O Movimento "Ciência e Vozes da Amazônia" reúne várias esferas sociais e instituições científicas da Amazônia, buscando posicionar as comunidades e os pesquisadores locais como atores capazes de influenciar as políticas climáticas, criando espaços de diálogo que conectem decisores a soluções práticas para a região. A ideia é fazer com que as vozes e os saberes ecoem para além dos muros da universidade e para dentro e fora da conferência. A COP 30, sediada no coração da Amazônia, será uma oportunidade histórica para mostrar que a proteção do bioma e da população que nele habita é vital para o equilíbrio climático global.

Em síntese, a COP é, sim, uma reunião diplomática, mas seu impacto vai muito além das salas fechadas. É um espaço em que a mobilização da sociedade civil, aliada à ciência e aos saberes tradicionais, pode e deve pressionar por ações concretas. Participar dos eventos paralelos, cobrar ações e transparência dos governos e difundir conhecimentos é forma de garantir que as decisões tomadas reflitam as necessidades reais do planeta. A COP 30, com a força da Amazônia e iniciativas como a da UFPA, pode marcar um ponto de virada nessa direção, demonstrando que a conferência é, acima de tudo, um espaço plural no qual todas as vozes podem e devem ser ouvidas.

Lise Tupiassu – Pró-Reitora de Relações Internacionais da UFPA. Dirige a Clínica de Direitos Humanos da Amazônia e dedica-se a pesquisas voltadas à conservação da biodiversidade, ao financiamento climático, ao ordenamento territorial e à valorização de povos e comunidades tradicionais. E-mail: lise@ufpa.br

Beira do Rio edição 174 - Março, Abril e Maio

Fim do conteúdo da página