Memes: o que dizem sobre nós?
A subjetividade paraense construída em publicações no Facebook
Por Nicole França Fotos Acervo da Pesquisa
Os memes são, com certeza, um dos conteúdos mais compartilhados nas redes sociais. Eles possuem como principal característica o humor, mas alguns também podem dizer muito sobre a identidade de quem os produziu ou compartilhou. Daniel Loureiro Gomes buscou compreender, na dissertação intitulada Quem somos nós hoje? Memes, Subjetividades e Malacos no Facebook, de que forma os memes representam a identidade paraense. A pesquisa foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL/ILC) e contou com a orientação da professora Ivânia dos Santos Neves.
“Me causou um certo estranhamento o fato de que, embora sejam textos que a gente conheça muito mais pelo viés humorístico, os memes guardassem alguma relação política, como a prática histórica de representar quem é o paraense, quem é o cidadão de Belém. Então, o meu primeiro objetivo estava relacionado a isso, ou seja, busquei desvendar que tipo de representação tinha o paraense a partir dos memes analisados”, afirma Daniel Loureiro.
Com base na Teoria da Análise do Discurso e de postulados filosóficos de Michel Foucault, o pesquisador analisou discursivamente a construção de subjetividades sobre Belém do Pará a partir de memes publicados no Facebook, no período de 2016 a 2018. Para isso, foram selecionados memes postados em cinco páginas da rede social, sendo elas: Malaco Intelectual, Malaco do Bem, Paraense na Depressão, Paraenses do Desespero e Montagens de Belém.
Com base na análise das regularidades discursivas presentes nos memes das páginas analisadas, ou seja, os assuntos que eram mais abordados nas postagens, Daniel Loureiro pôde elaborar um conjunto teórico, partindo da Análise do Discurso. “Eu identifiquei traços muito marcantes sobre a identidade paraense, como a culinária, o futebol, o local onde a pessoa mora, além de várias práticas culturais, como a música e a dança”, afirma.
Papão ou Leão. Brega ou Carimbó. Centro ou Periferia
Em sua pesquisa, Daniel Loureiro trabalha o conceito de subjetividade considerando que esse conceito não é estático, uma vez que a sociedade vive em frequente mudança e nós somos constantemente atingidos por variados discursos que nos formam como sujeitos. “Nós somos moldados em diferentes momentos da história, dependendo de onde nós viemos, para qual time eu torço, qual é a minha vertente religiosa, se eu gosto mais de brega ou de carimbó, se sou da periferia ou não. Então é um conceito que está em constante mudança”, explica.
A pesquisa identificou, ainda, a existência de um discurso colonizador que está presente nas vivências paraenses e busca se legitimar. Apesar disso, nos memes analisados, Daniel Loureiro observou que o paraense procura manter sua raiz. Embora negue, muitas vezes, a identidade indígena ou ribeirinha, o paraense busca demarcar o seu lugar, a sua cultura e os seus costumes.
Os memes também revelaram que o açaí é um dos pontos centrais da cultura paraense. Para o pesquisador, mesmo as páginas possuindo diferentes dinâmicas, o açaí é um símbolo repetido em todas elas, seja para falar sobre as formas de consumo, seja para criticar o preço, seja até para trabalhá-lo como uma espécie de tesouro cultural.
Além disso, foi percebido um conflito cultural entre a periferia e o centro. “A periferia é um espaço de cultura que muitos desconhecem. Dependendo da sua localização em Belém, aquela figura simbólica do ‘malaco’ pode ser interpretada de diferentes formas: ele pode ser um marginal ou um ladrão, ou apenas um garoto da periferia, com uma prática cultural diferente. Baseado nisso, constatei que as páginas analisadas continuam legitimando, querendo ou não, esse discurso elitista”, observou.
Ed.149 - Junho e Julho de 2019
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Quem somos nós hoje? Memes, Subjetividades e Malacos no Facebook
Autor: Daniel Loureiro Gomes
Orientadora: Ivânia dos Santos Neves
Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL/ILC)
Comentários
Saber que somos subjetivos e criativos me faz bem.
Obrigada Daniel Loureiro pela análise tão linda que fez da nossa cultura.