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Opinião

Publicado: Segunda, 11 de Novembro de 2019, 18h13 | Última atualização em Segunda, 11 de Novembro de 2019, 18h56 | Acessos: 1971

Romeiros de Moju: devotos de Nossa Senhora de Nazaré

imagem sem descrição.

Por Elias Diniz Sacramento Foto Acervo Pessoal

“É a minha segunda caminhada e estou nela pela fé que a gente tem em Nossa Senhora de Nazaré e o movimento dos companheiros que estão com a mesma fé de chegar lá, com a Nossa Senhora de Nazaré”.

O trecho acima, do senhor Edgar de Souza Lima, de 65 anos, da localidade Ipitinga, em Moju, é um dos sessenta depoimentos que foram registrados na caminhada dos romeiros de Moju, em 2017, e está no livro Romeiros de Moju: devotos de Nossa Senhora de Nazaré. O movimento que teve início em 2013, agora, em 2019, completa sete anos de peregrinações de homens e mulheres que saem do município mojuense, às vésperas do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, três dias antes da procissão maior em Belém, e percorrem aproximadamente 130 km pela estrada da Alça Viária e mais 25 km pela BR – 316, passando por Marituba, Ananindeua até chegar a Belém. 

O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é a maior manifestação de fé e devoção de que se tem notícia no Brasil. A procissão, que ocorre no segundo domingo de outubro, é precedida de várias manifestações que os devotos marianos organizam para a “Santinha”. No início do mês de outubro, a cidade de Belém começa os preparativos da festa para a padroeira dos paraenses. São as cores, os cheiros e os sabores que dão o tom dessas mudanças. A cidade ganha, nesse momento, ares que só se observam em tempos natalinos.

Cristãos católicos enfeitam suas casas para as peregrinações da “Santinha”, que é recebida em dezenas de moradas, seja no centro da cidade, seja nos bairros periféricos. Mesmo os que não se consideram católicos praticantes vivem esse momento com grande respeito. Nos dias em que se aproxima a procissão maior, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré percorre as ruas da Região Metropolitana de Belém com grande destaque, sendo conduzida por uma guarda especial e por uma multidão que acompanha os diversos trajetos. Além das ruas, também pelas águas ela recebe saudações, seguida por centenas de embarcações.

Em meio a todas essas homenagens ocorrendo na capital paraense para a “Nazinha”, centenas de romeiros se deslocam ao seu encontro. A tradição dos romeiros de Castanhal e da região nordeste paraense é de décadas. Em 2013, organizou-se um de grupo 80 pessoas, no município de Moju, para a primeira caminhada ao encontro da “mãezinha”, como elas a chamam. O motivo para a romaria foi um milagre alcançado pelo senhor Luiz Leite, que faria uma cirurgia para a desobstrução de uma artéria do coração, em Fortaleza. Seu filho participou de um grupo de oração em uma capela próxima ao hospital e, depois, levou um pão abençoado para seu pai.  No dia seguinte, ao fazer novos exames, ficou constatado que o senhor Luiz Leite não tinha mais nenhum problema e não precisaria passar pela cirurgia.

Desde então, os romeiros mojuenses realizam a peregrinação, que é feita três dias antes da procissão maior em Belém. A preparação é organizada, desde o início do ano, por uma coordenação que busca reunir recursos para a logística, como alimentação e água, que são servidas nas três noites de caminhada e nas duas paradas para descanso, durante o dia. Os romeiros saem de Moju na quarta-feira, à tarde, e caminham a noite toda. Descansam na quinta-feira, durante o dia, em uma casa de apoio na Alça Viária, e saem caminhando novamente às 18 horas. Na sexta, pela manhã, chegam à ponte do rio Guamá, passam o dia descansando e reiniciam a última caminhada, chegando à BR 316, à noite. Durante a madrugada e o amanhecer do sábado, completam a maratona religiosa, chegando à Basílica de Nazaré.

Em 2017, como historiador e devoto, fiz o percurso com o grupo de aproximadamente 400 pessoas e pude observar esse momento de fé, devoção, alegria e emoção de cada participante. É indescritível esse momento. É preciso estar lá para ver o que move cada romeiro na noite escura ou sob a luz do farol de algum carro que passa devagar. Ver centenas de pessoas caminhando rumo ao encontro de Nossa Senhora de Nazaré me permitiu entrar na intimidade de alguns romeiros e conversar com eles sobre o motivo de estarem ali, como o senhor Edgar de Souza Lima, autor da resposta citada no início deste texto.

Além do senhor Edgar, pude conversar com mais sessenta romeiros e romeiras, o que me permitiu organizar o livro Romeiros de Moju: devotos de Nossa Senhora de Nazaré. A sensação que ficou foi a de que o Círio de Nossa Senhora de Nazaré é um momento que contagia as pessoas, não só devotos ou cristãos católicos, mas também grande parte dos paraenses, que, nesse momento, participam e ajudam  fazendo com que o amor se propague, ao menos nesses dias dedicados à padroeira e mãe dos paraenses.

Elias Diniz Sacramento – professor da Faculdade de História do Campus Universitário de Cametá. Doutorando em História Social da Amazônia pelo PPHIST-UFPA. Autor dos livros A luta pela terra numa parte da Amazônia (2009) e As almas da terra: a violência no campo mojuense (2012). E-mail edsacramento5@yahoo.com.br

Ed.151 - Outubro e Novembro de 2019

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