Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Início do conteúdo da página

Opinião

Publicado: Terça, 29 de Setembro de 2020, 22h16 | Última atualização em Quarta, 30 de Setembro de 2020, 21h41 | Acessos: 3441

As viagens, as mulheres e o turismo

Por Diana Priscila Sá Alberto Foto Acervo Pessoal

Começo este texto expondo os dois temas que me incentivaram a pensar esta pesquisa: viajantes e mulheres. Eles foram essenciais para chegar ao ponto do que é o trabalho hoje, sobre mulheres cientistas na Amazônia. Assim surgiu a tese de doutorado: Emília Snethlage e Heloisa Alberto Torres: Gênero e Ciência na Amazônia do século XX. Dentro dessa discussão, surgem as viagens, a história da ciência e o gênero como novas perspectivas para o estudo da atividade turística e da História do Turismo na Amazônia.

Com base nesses elementos iniciais, tenho procurado investigar as dinâmicas socioespaciais e os discursos de gênero que delinearam trajetórias e saberes femininos ao longo da primeira metade do século XX, no Brasil e na Amazônia. A tese em questão vem discutir como duas mulheres cientistas abriram espaços para que nós, mulheres do século XXI, pudéssemos estudar, entrar numa universidade e estar hoje em salas de aulas e em laboratórios. A pesquisa tem trazido uma reflexão para pensar como se estabeleciam as interações nas redes de contatos de instituições científicas no Brasil, no começo do século XX.

Estas cientistas foram a alemã Emília Snethlage (1868-1929), que chegou a Belém no dia 15 de agosto de 1905, para trabalhar no Museu Paraense, atual Museu Paraense Emílio Goeldi, e a brasileira Heloísa Alberto Torres (1895-1977), nascida no Rio de Janeiro e a primeira mulher a formar os primeiros antropólogos brasileiros. Investigar como essas mulheres se colocaram no espaço público do ensino e da pesquisa tem sido instigante e muito significativo, pois os espaços científicos eram espaços masculinizados.

A literatura de gênero e de mulheres na ciência aponta para esses espaços. Imaginem uma mulher viajando apenas com caboclos ou indígenas? Ou uma mulher dirigindo a maior instituição de pesquisa na época? A historiografia tem mostrado que o espaço público não era local para as mulheres. Então, ter contato com elas, por meio das fontes históricas, tem sido uma oportunidade ímpar, além de incentivar o caminho na ciência e na educação, por meio da História e do Turismo.

O estudo do Turismo se dá nas nuances das viagens que essas cientistas fizeram pela Amazônia. Fundamentada nesse contexto e na formação que tenho em Turismo, comecei a perceber a aproximação com a atividade turística. É importante expor que essas viagens têm como base a história da exploração da região amazônica desde o século XVI, com os naturalistas, exploradores de tesouros; com as navegações europeias, em busca de elementos naturais e minérios; e com o processo amplo de colonização.

Assim, por meio dessas fontes, a pesquisa tem me proporcionado descobrir como essas cientistas ingressaram no caminho da ciência, desde as suas carreiras profissionais, importantes para as Ciências Naturais (como os estudos ornitológicos de Emília Snethlage) e para as Ciências Humanas (especificamente na Antropologia, nos trabalhos e na gestão de Heloísa Alberto Torres, no Museu Nacional do Rio de Janeiro), até como foram suas lutas para se manterem nesses espaços.

Descobri como seus trabalhos repercutiram num espaço científico extremamente masculino e masculinizado, como suas viagens trazem pistas de estudo sobre a História do Turismo e, especificamente, da atividade na Amazônia, além de ampliar a pesquisa teórica e epistemológica da atividade turística na formação de novas e novos bacharéis em Turismo.

A pandemia da covid-19 trouxe para a sociedade uma nova maneira de se olhar e perceber as pessoas a sua volta. As máscaras vieram para ajudar a manter nossa saúde pessoal e coletiva. Mas as lutas e os anseios por dias melhores, principalmente das mulheres, não podem ficar atrás das máscaras. Devem ser ressaltadas e expostas. E mulheres como Emília Snethlage e Heloísa Alberto Torres, com certeza, incentivam a nós, mulheres, a continuarmos nossa caminhada na ciência do século XXI.

Figuras 1 e 2: Fotos de Emília Snethlage em Belém do Pará
Fonte: Acervo do Site do Museu Paraense Emílio Goeldi (2018)

Figuras 3 e 4: Fotos de Heloísa Alberto Torres no Museu Nacional do Rio de Janeiro
Fonte: Acervo do Blog da Casa de Cultura Heloisa Alberto Torres (2019)

Mais sobre o tema:

ALBERTO, Diana; SANJAD, Nelson. Emília Snethlage (1868-1929) e as razões para comemorar os 150 anos de nascimento. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 14, n. 3, p. 1047-1070, 2019.

ALBERTO, Diana P. Sá. Mulheres Viajantes e a história da ciência na Amazônia: incursões no campo dos Estudos Culturais. In: PACHECO, Agenor S. (Org.). Estudos Culturais em cidades e florestas: poder, trabalho, memórias e sociabilidades na Amazônia. Rio Branco: NEPAN, 2019, p. 225-243.

MIGLIEVICH-RIBEIRO, Adélia. Heloisa Alberto Torres e Marina de Vasconcelos – pioneiras na formação das ciências sociais no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2015.

SANJAD, Nelson; SNETHLAGE, Rotger M; JUNGHANS, Miriam; OREN, David Conway. Emília Snethlage (1868-1929): um inédito relato de viagem ao rio Tocantins e o obituário de Emil-Heinrich Snethlage. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum.  v. 8, n. 1, Belém, p. 195-221, 2013.

Diana Priscila Sá Alberto – professora adjunta da Faculdade de Turismo (ICSA/UFPA). Atualmente é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia (PPHIST/UFPA).
E-mail: profadianaalberto@gmail.com

Ed.156 - Set/Out/Nov de 2020

Adicionar comentário

Todos os comentários estão sujeitos à aprovação prévia


Código de segurança
Atualizar

Fim do conteúdo da página