Barco-robô monitora águas na Amazônia
Protótipo faz análise de rios e reservatórios em tempo real
Por Adrielly Araújo Foto Acervo da Pesquisa
A interação homem-máquina vem sendo explorada, há séculos, pela ficção científica, sendo uma realidade cada vez mais presente nos dias atuais: robôs são capazes de limpar casas, dirigir veículos, desativar bombas, oferecer próteses de membros, ajudar em procedimentos cirúrgicos, fabricar produtos, entreter e ensinar pessoas. Isso é o que afirma Vanessa Evers, docente de Ciência da Computação e diretora científica na Universidade de Twente, em Enschede, nos Países Baixos, para o Portal da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
As tecnologias podem ajudar a resolver desafios importantes, como reunir conhecimento sobre a região amazônica, onde a abundância de rios e lagos dificulta o controle e o monitoramento da qualidade dessas águas. Esse foi o objetivo da dissertação do pesquisador Leandro Ramos Martins, intitulada Construção de um protótipo de Barco-robô de baixo custo para análise de qualidade de água em rios e reservatórios, apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia de Barragens e Gestão Ambiental (PEBGA) do Núcleo de Desenvolvimento Amazônico em Engenharia (NDAE/UFPA).
A pesquisa, orientada pelo professor Rafael Bayma, apresentou um projeto prático e operacional para a construção de um barco-robô de baixo custo para coleta e monitoramento da qualidade de água em rios e reservatórios amazônicos. O barco-robô foi capaz de coletar e analisar níveis de ph e temperatura, além do nível de umidade do ambiente, de amostras retiradas do rio Tocantins, no Pará.
“A pesquisa foi realizada estudando as últimas tecnologias e publicações nas disciplinas de barcos autônomos, monitoramento de qualidade de água, tecnologias em embarcações, além da procura por materiais alternativos como madeira e pvc”, relata Leandro Ramos Martins.
O barco pode ser operado por celular ou tablet
O barco-robô funciona por meio de baterias estacionárias, que são recarregadas por placas solares instaladas na parte superior do protótipo. Inicialmente desenvolvido para ser controlado por um operador em terra, via celular ou tablet, o modelo também foi preparado para ser operado remotamente, de longas distâncias, explica Leandro Ramos Martins.
“Dessa forma, o barco-robô pode cumprir um percurso e realizar ações pré-determinadas, como ir até um local com indícios de poluição, realizar a coleta e análise de qualidade da água e ter os resultados ainda do local da análise. Ele também poderá transportar amostras da água para o operador, tudo seguindo os protocolos de coleta, armazenamento e transporte”, explica o engenheiro.
De acordo com Leandro Martins, entre as vantagens dessa tecnologia, estão: maior segurança dos profissionais que manuseiam o protótipo, ao evitar que a equipe precise se locomover até os pontos de coleta, e maior agilidade nos processos, ao realizar a transmissão de dados diretamente do local analisado, pois não é necessário que a amostra de água chegue a um laboratório para análise da forma tradicional.
Com base no estudo de caso no qual foram coletadas e analisadas amostras de água do rio Tocantins, no Pará, o pesquisador observou o ph da amostra em concordância com os resultados obtidos pelo sensor de ph instalado no barco-robô, demonstrando a confiabilidade da informação.
O protótipo não foi patenteado pelo autor do estudo por tratar-se de um projeto público, com o conceito de “código aberto”, segundo o qual se entende que o ambiente colaborativo é mais importante para promover o desenvolvimento da tecnologia. A construção do protótipo foi avaliada em R$ 11 mil reais, que, de acordo com Leandro Martins, é um valor acessível se comparado a outras soluções comerciais disponíveis.
“O mais importante é a possibilidade de uma produção em grande escala, visto que foram utilizados componentes fáceis de encontrar no comércio especializado. Uma aplicação possível é a utilização como um ‘enxame’ (um grande número destas embarcações) para promover uma rede de barcos-robôs, em que todos se comunicariam entre si e fariam um mapeamento completo da qualidade de água de um lago ou rio”, finaliza Leandro Martins.
Beira do Rio edição 161
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