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Opinião

Publicado: Quarta, 25 de Agosto de 2021, 17h14 | Última atualização em Quarta, 25 de Agosto de 2021, 17h14 | Acessos: 1569

Bioantropologia rebate as notícias falsas (Fake News) em circulação sobre as vacinas contra a Covid-19

imagem sem descrição.

Por Hilton P. Silva Foto CMP

A chegada da variante Delta do SARS-CoV-2 ao Brasil reacende o alerta para o fato de que a Covid-19 ainda continua a ser um perigo entre nós. Esta cepa resulta de mecanismos adaptativos do vírus que, por meio da seleção natural, se ajusta ao sistema imune e evolui, tornando-se mais eficiente em infectar o hospedeiro humano. No momento, a única forma eficaz de combater a doença e oferecer à humanidade a chance de retomar as atividades regulares o mais breve possível é com a vacinação em massa. As vacinas são um mecanismo adaptativo biocultural que nos permite aumentar a resistência do organismo com a redução da mortalidade, ao mesmo tempo em que, por reduzir significativamente a carga viral, evita o surgimento de novas cepas que, nas pessoas não vacinadas, podem ser mais contagiosas ou, talvez, mais letais.

No entanto dezenas de notícias falsas (fake News) continuam a correr as redes sociais, levando milhões de pessoas a deixarem de se vacinar e até mesmo algumas que tomaram a primeira dose a deixarem de tomar a segunda e, assim, não adquirirem proteção integral dos quadros graves de Covid-19. A seguir, são apresentadas algumas das falsidades disseminadas nas redes e por que elas são erradas e perigosas.

A vacina não tem eficácia: essa é uma informação incorreta, uma vez que a eficácia de qualquer vacina aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa) é obrigatoriamente maior que 50%, isto é, para ser usada no SUS, ela precisa proteger a pessoa muito mais do que quaisquer outras medidas individuais que possam ser tomadas pelos não vacinados. A principal função delas, agora, é evitar que as pessoas desenvolvam a forma grave da doença, que acomete, principalmente, os idosos e leva a longos períodos de internação e à maioria das mortes. Nesse caso, todas as vacinas apresentam alto nível de eficácia, ou seja, quem é imunizado tem uma chance muito pequena de precisar de hospital, UTI, intubação e de morrer, caso venha a ser infectado pelo SARS-CoV-2.

A vacina tem efeitos colaterais: embora as vacinas, e qualquer remédio, possam ter efeitos colaterais, como desconforto ou vermelhidão no local da injeção, dor de cabeça ou dor no corpo no dia seguinte, entre os milhões de pessoas já vacinadas, de centenas de etnias, em todos os continentes, não foram confirmadas reações graves ou mortes relacionadas ao uso em pessoas previamente saudáveis. Qualquer efeito colateral da vacina será muito menos doloroso e perigoso que uma internação ou intubação.

A vacina vai mudar a minha genética: nenhuma vacina tem o poder de mudar o código genético dos seres humanos ou de fazer a pessoa se transformar em outra coisa. Nossos genes são herdados de nossos pais e não podem ser alterados por vacinas.

A vacina pode causar câncer e problemas de saúde: não há qualquer evidência científica de que as vacinas contra a Covid-19 causem doença e não há registro médico de qualquer vacina que cause câncer. As vacinas usadas no Brasil se mostraram seguras em todos os testes e baseiam-se em fórmulas muito parecidas com as já usadas para diversas outras doenças, que são comumente aplicadas aqui em crianças e adultos há décadas, com enorme sucesso e redução da mortalidade na população.

A vacina é experimental: as vacinas em uso no SUS foram testadas em milhares de pessoas, inclusive profissionais de saúde, em várias partes do mundo, antes de serem aprovadas pela Anvisa. Os testes já realizados no Brasil e em outros países demonstraram que são eficazes, seguras e evitam as formas graves da doença. Elas foram aprovadas para uso emergencial, por causa da pandemia, pelas agências de saúde mais exigentes do mundo para reduzir milhares de mortes que continuam a ocorrer todos os dias.

A vacina está matando idosos: Quem tem matado milhares de idosos e um número crescente de jovens é a Covid-19. As vacinas em uso no país demonstraram ser capazes de reduzir muito a mortalidade dos vacinados. Em Israel, na Inglaterra, nos EUA e em outros países, após as duas doses da vacina, a morte de idosos e de outros grupos reduziu drasticamente.

Mulheres grávidas e as que estejam amamentando não podem tomar a vacina: embora as vacinas nunca sejam testadas em grávidas e em lactantes por motivos éticos, as em uso no país são feitas com tecnologia amplamente usada em vacinas ao redor do mundo e não causam efeitos colaterais em mães ou em seus bebês. O Ministério da Saúde recomenda que o uso seja feito de acordo com a análise do risco de a mãe contrair a doença. A mãe vacinada deve continuar a amamentar normalmente. O leite materno é o melhor alimento para o bebê e irá protegê-lo.

A vacina é “coisa do capeta”: O Papa Francisco se vacinou e declarou: “Eu acredito que eticamente todo mundo deveria tomar a vacina”. A maioria dos pastores e outros religiosos reconhecem que a vacina é fruto do conhecimento científico. Ela está ao lado da fé, salva vidas, protege os idosos e evita a destruição das famílias. Vacinas são o contrário do mal e da morte, pois promovem a solidariedade e a vida, logo nada têm a ver com o demônio.

O vírus foi criado na China (ou pelos comunistas) e a China criou a vacina, por isso ela é ruim: A tecnologia atual não consegue criar um vírus como esse em nenhum país. Milhares de pessoas morreram de Covid-19 na China e o governo de lá está usando vacinas para controlar a pandemia na sua população. Além disso, a maioria das vacinas e dos remédios que tomamos, há décadas, vem daquele país e ninguém se preocupava com isso até agora. A China é o principal fornecedor de insumos de saúde para o Brasil, de máscaras e luvas a tratamentos para o câncer, a Coronavac é só mais um. Outras vacinas vêm da Índia e dos EUA e virão mais de outros países. Muitas já são fabricadas aqui mesmo, no país. Neste momento, não há “vacina ruim”. Todas são fundamentais para conter a pandemia.

A vacina vai injetar um chip para controlar você ou você vai ficar “magnético” após tomar a vacina: Entre todas as notícias falsas circulando, esta é a mais absurda. Temos em uso vacinas originadas em vários países e também feitas no Brasil. Nenhuma delas carrega elementos nocivos ou perigosos. Todas foram testadas em milhares de pessoas, de dezenas de países e etnias, antes de serem aprovadas pela Anvisa e passam por um rigoroso controle de qualidade ao chegarem ao país. As doses das vacinas são distribuídas aleatoriamente para os municípios pelo Ministério da Saúde, todas são eficazes e seguras, independentemente do fabricante.

A pandemia não é “democrática”: A maioria das pessoas mortas nos últimos meses são as que não se vacinaram ou as que tomaram apenas uma dose do imunizante. As vacinas protegem a nós e a quem amamos, e têm se mostrado eficazes para todas as variantes em circulação. As notícias falsas, inclusive as que vêm com fotos e videomontagens, são criminosas e contribuem para prolongar a pandemia e causar mortes.

Hilton P. Silva - Médico sanitarista, coordenador do Lebios/CNPq. E-mail: hdasilva@ufpa.br

 Beira do Rio edição 159

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