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Fatores de risco e proteção

Publicado: Sexta, 25 de Maio de 2018, 14h50 | Última atualização em Sexta, 25 de Maio de 2018, 14h53 | Acessos: 3606

Estudo analisa relações de amizade entre jovens em instituições de acolhimento

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Por Gabriela Bastos Foto Acervo da Pesquisa

Investigar os fatores de risco e proteção no desenvolvimento de adolescentes e dar um olhar atencioso às relações de amizade entre jovens em situação de acolhimento. Esse foi o objetivo da dissertação Relações de amizade de adolescentes em situação de acolhimento institucional: fatores de risco e de proteção, defendida por Amanda Cristina Ribeiro da Costa, no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, orientada pela professora Lília Iêda Chaves Cavalcante.

“Desde a graduação, eu faço parte do Laboratório de Ecologia do Desenvolvimento (LED), que investiga, entre outras questões, o desenvolvimento de crianças e adolescentes em realidade de acolhimento institucional. Em 2012, nós realizamos uma grande pesquisa, financiada pelo CNPq, que investigava não só o perfil das crianças, mas também o dos adolescentes. Nós percebemos a necessidade de buscar as questões que eram relevantes para a adolescência, então, como ingressei no mestrado, coube a mim essa tarefa", conta Amanda.  

A autora explica que os fatores de risco são eventos negativos que aumentam a probabilidade dos indivíduos apresentarem problemas sociais, físicos e emocionais. “São exemplos de fatores de risco a violência doméstica, o contato com pessoas que utilizam substâncias psicoativas, o uso de drogas pelos próprios adolescentes, a iniciação sexual precoce sem proteção e a própria condição de pobreza multidimensional”, explica. 

Já os fatores de proteção podem atenuar e auxiliar o enfrentamento das adversidades e vulnerabilidades. “Eu posso ter um adolescente que iniciou o uso de drogas e, como fator protetivo, ele teve o monitoramento parental da família. Entretanto os adolescentes que foram sujeitos da pesquisa não convivem com as suas famílias. Nossa preocupação era investigar quais eram os fatores protetivos deles naquele momento”, afirma Amanda Ribeiro da Costa.

A dissertação está dividida em dois capítulos, com uma abordagem quanti-qualitativa. Sendo a primeira parte quantitativa, com caráter descritivo e exploratório, em que foram investigados fatores de risco e proteção em um número elevado de adolescentes, uma realidade que não pôde ser qualificada. Já no segundo capítulo, a pesquisa tem um direcionamento qualitativo, em que foram investigados diretamente aspectos referentes à qualidade da amizade na percepção de adolescentes que vivem em instituições de acolhimento.

40 entrevistados, pardos ou negros, sem o ensino fundamental

A pesquisadora foi a cinco instituições diferentes. Participaram da pesquisa 40 sujeitos, 25 do sexo masculino e 15 do sexo feminino, com uma média de idade de 15 anos. Todos tinham família em situação de vulnerabilidade socioeconômica, a maioria era natural de Belém, não tinha terminado o ensino fundamental e considerava-se pardo ou negro.

Como resultado, Amanda Costa chegou à conclusão de que os adolescentes estão nas instituições porque tiveram seus direitos ameaçados ou violados pela família e pelo Estado. As diferenças de fatores de risco entre meninos e meninas também chamaram a atenção da pesquisadora. Entre os meninos, prevalecem fatores relacionados à vivência de rua, ao trabalho infantojuvenil e ao uso de drogas. Amanda lembra que são adolescentes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, então, se veem obrigados a buscar alternativa de trabalho nas ruas e, nessa condição, tornam-se vulneráveis aos fatores de risco presentes nesse contexto.

Enquanto isso, as meninas são mais atingidas por fatores de risco intrafamiliares, como a violência doméstica (física e sexual). Esse fato pode estar ligado à forma de socialização pautada na crença de valores autoritários e na prática disciplinar punitiva, muitas vezes sofrida pelas figuras femininas das gerações anteriores à da vítima.

Os amigos são importantes para quem não conta com a família

Outro fato que chamou atenção da pesquisadora foi a percepção que esses adolescentes têm da amizade e como as relações são estabelecidas. Amanda Costa explica que, para esses adolescentes, é positivo ter a companhia de um amigo para usar drogas ou sair das instituições para ir às festas. Para eles, é importante fortalecer essas relações de amizade, já que não contam com o apoio da família. “Uma fala muito interessante foi a de uma adolescente que disse tem que tá junto. Se eu tô no fundo do poço, ela tá no fundo do poço comigo e, quando eu levanto, a gente vai levantar junto.”, relembra Amanda.

As relações de amizade são estudadas pela Psicologia na área das Relações Interpessoais e tem ganhado destaque também na Psicologia do Desenvolvimento. As relações de amizade são íntimas e estáveis, que podem ajudar a lidar com os eventos estressores comuns, mas também podem representar risco ao desenvolvimento à medida que se caracterizam pelo maltrato, pelo ciúme, pela coerção e pelo conflito.

Segundo Amanda Costa, o adolescente vai se inserir em um grupo com o qual se identifica. Influenciado pelo grupo, ele tem o seu comportamento alterado de forma a contribuir para o desenvolvimento saudável ou ficar exposto às situações adversas. “É possível perceber nas relações de amizade aspectos protetivos, como o suporte social e o sentimento de pertencimento, e os fatores de risco, como a influência para o início sexual precoce e o uso de drogas”, conclui a pesquisadora.

Ed.142 - Abril e Maio de 2018

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