Novo modelo para diagnóstico do Autismo

 Por Matheus Luz Ilustração CMP 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado como um conjunto de desordens no desenvolvimento neurológico e costuma aparecer nos primeiros anos de vida do indivíduo. Os diferentes níveis de autismo manifestam uma série de características comportamentais em maior ou menor intensidade em cada pessoa. Algumas dessas características incluem o comportamento repetitivo nos movimentos e na fala e dificuldades na interação e na comunicação em determinados contextos.

As desordens neurológicas que compreendem o espectro autista já deixaram de ser consideradas como uma “doença mental”. Hoje existem diversos tratamentos, desde o diagnóstico na primeira infância até as terapias comportamentais que auxiliam a inclusão e o desenvolvimento da pessoa com autismo.

Foi pensando em auxiliar no diagnóstico de transtornos invasivos do neurodesenvolvimento, especialmente o TEA, que o professor Thiago Rafael da Silva Moura elaborou o artigo Mutual Autism in Random Walks, em parceria com os pesquisadores Anderson de Jesus Araújo Ramos e André de Jesus Araújo Ramos. Thiago Moura recebeu o Prêmio Research Under Literal Acess (Rula Awards), na categoria Pesquisador Inovador do Ano em Física Estatística e Computacional, com a pesquisa que interliga três diferentes áreas: a Física, a Psiquiatria e a Neurociência Computacional.

O objetivo inicial do estudo foi modelar os sintomas do autismo que são observados em exames de rotina e, dessa forma, criar um modelo de passeios aleatórios para avaliar o autismo, observando quando as características do transtorno eram mais perceptíveis, conforme explica o pesquisador: “É uma forma de modelar sistemas físicos, podendo ser entendido como um modelo matemático estocástico (cujo estado é determinado, probabilisticamente, dependendo de eventos aleatórios). Pode ser utilizado, por exemplo, para registrar medidas de temperatura em uma cidade ou, como em nosso trabalho, para registrar e modelar o comportamento de pessoas com TEA”.

Interação indica casos leves ou graves do TEA

Thiago Moura explica que foram utilizados passeios aleatórios do tipo “com memória” para recobrar uma decisão tomada no passado e, assim, identificar casos leves, moderados e graves, segundo o comportamento patológico dos Transtornos do Espectro Autista (TEA).

O autor da pesquisa esclarece: “Os passeios aleatórios clássicos não guardam informações passadas, portanto elas não possuem influência sobre as decisões correntes. Os passeios aleatórios com memória guardam toda a informação passada, que pode ser acessada. Essa característica é essencial para a construção do nosso modelo”.

Na pesquisa, os passeios aleatórios foram pensados como uma nova possibilidade de diagnóstico para o TEA. O modelo consiste na avaliação da interação entre duas pessoas, um caminhante que simula um indivíduo com TEA e outro simulando um saudável. Os pesquisadores observam como o indivíduo com TEA reage à interação com o indivíduo saudável.

O estudo percebe a probabilidade da influência das ações do caminhante saudável sobre o caminhante com TEA e vice-versa, verificando também o aprendizado entre os indivíduos. De acordo com o pesquisador, a aplicação do modelo apresentado pode ser usada para “analisar sintomas como ecolalia (repetição na fala) e palilalia (repetição ou imitação de ecos na fala), comportamento motor repetitivo e interesses sociais restritos”.

O professor explica que as caminhadas aleatórias podem ser utilizadas como séries temporais registrando os sintomas e, se usadas as ferramentas apropriadas, podem ser uma alternativa para o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista. Segundo o professor Thiago Moura, a equipe envolvida com o estudo já está trabalhando com diversos protótipos. A perspectiva é poder levar a pesquisa para além do papel, apesar dos desafios atuais.

Beira do Rio edição 158