Empoderamento da mulher amazônica
Projeto da Faculdade de Enfermagem faz alerta sobre violência
Por Nicole França Fotos Acervo do Projeto
De acordo com a pesquisa realizada pelo Datafolha em março de 2017, uma em cada três mulheres já sofreu algum tipo de violência no Brasil no último ano, sendo 503 mulheres vítimas de agressão física a cada hora. A pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança também revelou que 22% das mulheres sofreram violência verbal, 10% sofreram ameaça de violência física, 8% sofreram ofensa sexual, 4% receberam ameaça com faca ou arma de fogo, além de 3% terem sofrido espancamento ou tentativa de estrangulamento, o que corresponde a 1,4 milhão de mulheres. 1% levou pelo menos um tiro. A pesquisa foi além e divulgou que, entre as mulheres que sofreram violência, 52% se calaram, 11% procuraram a Delegacia da Mulher e 13% preferiram o auxílio da família.
Tendo em vista essa problemática, a Faculdade de Enfermagem está desenvolvendo o Projeto de Extensão Empoderamento e fortalecimento da mulher amazônica frente à violência doméstica e intrafamiliar, sob a coordenação da professora Vera Lúcia de Azevedo Lima. “O projeto busca informar sobre as consequências da violência, não só para a mulher como também para a população. Essas consequências são psicológicas, sociais e físicas”, explica a professora.
O projeto cria discussões voltadas, principalmente, para temas como os tipos de violência: a violência física, caracterizada pela agressão direta; a psicológica, que constitui uma ameaça ou um insulto que possa causar danos psicológicos; a moral, que compromete a liberdade, a honra, a saúde (mental ou física) ou a reputação; a sexual, que corresponde à tentativa ou ao ato sexual sem o consentimento da vítima; a patrimonial, que corresponde à retenção, à subtração, à destruição parcial ou total de objetos, de documentos pessoais ou de recursos econômicos. O projeto também orienta como identificar alguém que sofre violência e a quem pedir ajuda. Essas informações, de certa forma, instrumentalizam a mulher para que ela saiba como agir em caso de violência.
O Projeto de Extensão conta com a participação de alunos dos cursos de Graduação em Enfermagem e em Medicina, do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem da UFPA, de bolsistas de extensão e de voluntários. Segundo a professora Vera Lúcia, o projeto é aberto a todos que tenham interesse pelo tema, independentemente da área de atuação, da faixa etária ou do gênero. “O projeto é da comunidade e para a comunidade”, afirma.
Pesquisadora achou necessário ampliar fórum de discussão
O projeto surgiu da tese de doutorado da professora Vera Lúcia de Azevedo Lima, que retratou a violência contra a mulher amazônica. Segundo a professora, houve a necessidade de difundir a informação para além da área da saúde. “A necessidade de levantar essa discussão para a comunidade é uma forma de retribuir o conhecimento que adquirimos dentro do projeto e provocar algum efeito na sociedade”, declarou Victor Paixão, aluno de Enfermagem e bolsista do projeto.
Aprovado em 2011 pela Pró-Reitoria de Extensão da UFPA, as atividades do projeto iniciam-se com docentes, discentes e voluntários pensando metodologias, temas e referências que serão utilizados. As metodologias variam das palestras à distribuição de cartilhas. Recentemente, um dos temas abordados foi a violência obstétrica, que envolve agressões físicas ou verbais contra a mulher durante o pré-natal e/ou o parto. Esse é um exemplo de como os integrantes do programa estão buscando temas e metodologias que atendam às necessidades da comunidade.
Hoje o projeto está se expandindo para além da capital. Já foram realizadas ações em Mosqueiro e em uma localidade próximo ao município de Moju. “Nesses lugares, nos deparamos com uma realidade completamente diferente. Quando chegamos para discutir esses temas, foi um choque para eles. Ao explorar espaços para além de Belém, realizamos trocas, e todos nós ganhamos com essa experiência”, avalia Víctor Paixão.
Visitas às escolas envolvem crianças e adolescentes
A partir de 2015, o grupo compreendeu que, para ter resultados mais efetivos, não era suficiente conversar apenas com a mulher, e sim com a família, ou seja, aproximar-se do adolescente e da criança era imprescindível. A equipe passou a visitar escolas e a utilizar metodologias diferenciadas para que o público jovem assimilasse a gravidade do problema e fosse agente transformador dessa realidade.
Nas escolas, as ações iniciam-se com uma conversa com os pais e os professores para, em seguida, a equipe conversar com as crianças e com os adolescentes. O bolsista Victor Paixão afirma que a melhor forma de combater a violência doméstica é educar as crianças para que elas não reproduzam o comportamento violento na idade adulta.
Nas escolas, a metodologia utilizada é diferente. Vídeos, curtas-metragens, álbuns coloridos e músicas são usados para ilustrar a violência contra a mulher e o que pode ser feito em relação a isso. O assunto é discutido de forma didática, distanciando-se de termos técnicos e da linguagem rebuscada, justamente para atrair o jovem, de modo que ele compreenda a importância desse assunto.
Além das escolas, o projeto se estende também para as igrejas, as famílias e para as unidades básicas de saúde. Dessa forma, o programa não atua apenas em um local fixo, mas de forma ampla, com base nas necessidades da comunidade.
Violência em números
No ano de 2015, foram realizados 749 mil atendimentos do Ligue 180, sendo 2.052 atendimentos por dia e 62.418 por mês. No total desses atendimentos, 41,09% corresponderam à prestação de informações; 9,56%, a encaminhamentos para serviços especializados de atendimento à mulher; 38,54%, a encaminhamentos para outros serviços de teleatendimento (190/Polícia Militar, 197/Polícia Civil, Disque 100/SDH).
Balanço do Ligue 180, disponível em http://agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/dados-e-pesquisas-violencia/dados-e-fatos-sobre-violencia-contra-as-mulheres/
Ed.141 - Fevereiro e Março de 2018
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