Os riscos do consumo precoce de álcool
Ansiedade e depressão são alguns dos prejuízos entre adolescentes
Por Adrielly Araújo Fotos Alexandre de Moraes
Pesquisa realizada, em 2015, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 55,5% dos adolescentes no último ano do ensino fundamental (cerca de 1,6 de 2,6 milhões) já experimentaram bebida alcoólica, com um índice maior entre as meninas (51,3%). É importante estudar maneiras de proteger e conscientizar os adolescentes dos perigos do consumo prematuro de álcool etílico.
Pensando nisso, a pesquisadora Mayara Arouck Barros realizou um estudo querendo entender os benefícios da cafeína contra o consumo de etanol, intitulado Avaliação do efeito neuroprotetor da cafeína em ratas intoxicadas por etanol no padrão binge. A dissertação foi orientada pela professora Cristiane do Socorro Ferraz Maia e apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF/ICS) da UFPA.
“Eu quis mimetizar a realidade atual, na qual jovens etilistas estão frequentemente sendo diagnosticadas com ansiedade e depressão. Busquei uma forma de ajudar essa população”, explica a pesquisadora.
Segundo dados da pesquisa, a forma como esses adolescentes mais consomem o álcool etílico é chamada de padrão binge driking, que se caracteriza pela ingesta de altas doses de etanol de maneira intermitente e episódica, seguida por períodos de abstinência. Esse tipo de consumo provoca maior prejuízo cerebral (déficit na coordenação motora, na aprendizagem e na memória, além de comportamentos ansiosos e depressivos) em comparação ao consumo contínuo.
A pesquisa realizou um estudo comportamental em ratas, da adolescência até a fase adulta. Elas foram divididas em quatro grupos: o Grupo Controle recebeu apenas água, o Grupo Cafeína recebeu apenas cafeína, o Grupo Etanol recebeu apenas etanol e o Grupo Etanol/Cafeína recebeu ambos.
Foram realizados os seguintes testes: do Campo Aberto, do Labirinto em Cruz Elevado, do Splash e, por último, o Teste do Nado Forçado, em que os dois primeiros avaliaram sintomas de ansiedade e os dois últimos avaliaram sintomas de depressão e de anedonia (falta de prazer).
No estudo, a cafeína atuou como neuroprotetor
O Grupo Cafeína e o Grupo Etanol/Cafeína tiveram a cafeína administrada a partir do 35° dia até o 72° dia pós-natal, em forma de solução cafeinada na dose de 0,3g/L. Esse modo de ingesta para o Grupo Etanol/Cafeína iniciou-se 14 dias antes do primeiro dia da intoxicação com o etanol, continuando durante as quatro semanas de binge drinking para preservar seu efeito neuroprotetor a longo prazo.
A intoxicação do Grupo Etanol/Cafeína e do Grupo Etanol por etanol no padrão binge foi administrada por gavagem (método de introdução de alimentos líquidos no estômago através de um tubo colocado pelo nariz ou pela boca), na dose de 3g/kg/dia, durante três dias consecutivos semanalmente, do 49° ao 72° dia pós-natal, o que corresponde ao período da adolescência e da fase adulta nesse modelo animal. O Grupo Controle recebeu volumes equivalentes de água.
Os dois primeiros testes comportamentais (Teste do Campo Aberto e Teste do Labirinto) analisaram o comportamento tipo ansiedade nos animais. O primeiro foi desenvolvido de modo a avaliar a atividade locomotora; e o segundo, de modo a gerar caráter exploratório, combinando espaços fechados e abertos e fundamentado na preferência natural de roedores a espaços fechados.
Para a avaliação dos comportamentos tipo anedonia e tipo depressivo, foram utilizados os testes Splash e Nado Forçado. No primeiro, o objetivo era avaliar o comportamento motivacional do animal, associando a autolimpeza como indício de autocuidado. O segundo teste avalia comportamento semelhante à depressão, baseado em três parâmetros: escalada, nado e imobilidade. Animais com comportamento tipo depressivo tendem a passar mais tempo imóveis.
Dos resultados, foi possível concluir que a administração intermitente e episódica de etanol, da adolescência à fase adulta, provoca comportamento tipo ansioso e tipo depressivo, observados pela redução de entradas na área central no Teste Campo Aberto, redução do número e do tempo de entrada no braço aberto no Teste do Labirinto, redução do tempo de autolimpeza no Teste Splash e aumento no tempo de imobilidade no Teste do Nado Forçado.
“Em uma condição de ansiedade e depressão, a literatura mostra que existe um aumento do receptor de adenosina do tipo A2a no corpo do enfermo, e a cafeína age justamente como inibidor não seletivo desse receptor, regulando esse aumento, ou seja, ela volta a diminuir e fica nos níveis normais”, explica Mayara Arouck Barros sobre o efeito da cafeína.
De acordo com a pesquisadora, esses resultados já tinham sido descritos, “mas este estudo é inovador ao demonstrar que a cafeína, administrada de forma crônica e anterior à intoxicação pelo álcool etílico, é capaz de provocar uma neuroproteção”, conclui.
Beira do Rio edição 157
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