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Entrevista: "Por uma universidade em diálogo com o mundo"

Escrito por Beira do Rio | Publicado: Sexta, 10 de Janeiro de 2025, 15h15 | Última atualização em Sexta, 10 de Janeiro de 2025, 15h56 | Acessos: 193

Prof. Gilmar Pereira da Silva é o 14º reitor eleito e empossado na UFPA

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Por Walter Pinto. Foto: Alexandre de Moraes

Após atuar como vice-reitor por oito anos, o professor Gilmar Pereira da Silva foi eleito e empossado como o 14º reitor da UFPA. Graduado em Pedagogia, mestre e dou­tor em Educação, ele está à frente de uma das principais universidades públicas brasileiras, com 55 mil estudantes, atuação por todo o estado do Pará e uma forte inserção no mundo. Como vice-reitor, ele liderou um processo de inclusão que ultrapassou os limites da interiorização ao estabelecer um novo conceito à UFPA, o de Universidade Multicampi. Preocupado com a formação no interior, ele busca integrar a pós­-graduação a todo o estado. Nesta entrevista, o novo reitor da UFPA fala do seu projeto de universidade e das ações que desenvolverá no quadriênio 2024-2028, com vista a consolidar a Universidade entre as maiores do Brasil.

Ciência como instrumento de transformação

A Universidade tem que ter um projeto de sociedade em que atue como elo de desenvolvimento e transformação do estado, da Amazônia e do país. Meu compromisso é estimular a ciência, mas uma ciência engaja­da, que se preocupe com a estrutura gover­namental, mas também com os movimentos social e sindical, com as populações ribeiri­nhas, indígenas e quilombolas, ou seja, com a sociedade de um modo geral. Penso em uma instituição científica que divulgue sua produção e possibilite o uso da ciência pela sociedade no sentido da transformação. É com essa acepção que volto a duas ações pelas quais me empenhei como vice-reitor: perspectiva multicampi, porque somos uma universidade com 12 campi; e perspectiva de inclusão, porque alimento o sonho de que os povos amazônicos compreendam a importância e o papel deles de transfor­mação deste país. A UFPA tem que ter esse comprometimento. Para isso, usando uma expressão popular, o reitor precisa ser um ca­marada que tenha capacidade de "vender bem o peixe", precisa entender cada detalhe da instituição e da sociedade. Entender, por exemplo, como fazer para que uma pesqui­sa com o açaí chegue ao trabalhador que colhe o açaí, de tal forma que, para além da polpa, ele possa explorar todas as pos­sibilidades oferecidas pela ciência. Pensar como o pesquisador que constrói um barco elétrico, como o que construímos na UFPA, pode replicar a tecnologia pelas pequenas embarcações que fazem o transporte de estudantes. Estimular o cientista da nutrição a pesquisar dentro de uma perspectiva de alimentação que possa servir, por exemplo, à merenda escolar. Penso em uma universi­dade que tenha esse pé sempre presente na comunidade, que participe do dia a dia da população da Amazônia.

Extensão avançada

Alcançar esse objetivo passa por um projeto de extensão para além da estrutura da universi­dade. Dou como exemplo o Programa Proexia, um projeto de extensão avançada iniciado pela UFPA no Movimento de Emaús. O Proexia foi replicado nos Campi de Soure e de Breves, cada um com dez projetos. Hoje, está presente nos Campi de Abaetetuba, Cametá e Tucuruí, cada qual com dez projetos. Pretendemos fazer o mesmo nas regiões nordeste, do Xingu e Metropolitana. A ideia é que os professores que fazem extensão dialoguem com as popu­lações dessas regiões. Estamos sempre falando de biodiversidade, bioeconomia, pesca arte­sanal, coisas que o nosso povo faz na prática. Então, precisamos ter capacidade e humildade para dialogar com essa população e pensar como instrumentalizar isso de tal forma que a população possa absorver a ciência produzida nos nossos laboratórios e nossos pesquisadores levem para as suas pesquisas o conhecimento tradicional das populações.

Assistência aos estudantes

A UFPA desenvolve uma política de acesso que é referência. Temos PS, PSE Indígena, PSE Quilombola e ações de acesso para estudan­tes estrangeiros. Temos, hoje, 55 mil estudantes. Mas precisamos estabelecer uma política consistente de permanência desses estudan­tes. Isso passa pela garantia de alimentação para todos, como temos no Campus Belém. No entanto, onde a pobreza é maior, ainda precisamos nos fazer presente. Por isso assumi a responsabilidade de, nos próximos quatro anos, criar uma política de alimentação para os campi do interior. A transformação da Superin­tendência de Assistência Estudantil em Pró-Rei­toria é um passo decisivo para alcançarmos esse objetivo. Entendemos que a UFPA precisa ter uma estrutura forte, com visibilidade, para garantir a alimentação nos campi do interior. Precisamos também construir uma política de bolsa para aqueles estudantes, sobretudo os mais pobres. É imperativo proporcionar condi­ções para que eles possam, pelo menos uma vez ao ano, sair dos muros da Universidade para participar de eventos acadêmicos. Tudo isso despende trabalho e recursos financeiros. Neste momento, trabalho com a Proad, a Propesp e a Saest, no desenho dessa política que iremos entregar à razão de ser da UFPA, os seus estudantes. Eles precisam de formação de qualidade e condições de permanência. Outro projeto nosso é a criação, nos campi do interior, de Centros de Convivência, espaços de descanso, alimentação e lazer para os es­tudantes. Estamos conversando com a Fadesp neste sentido. Planejo construir um em cada campus durante o meu mandato.

Pós-Graduação nos campi

A UFPA tem, hoje, uma quantidade muito significativa de programas de mestrado e doutorado, avaliados de forma muito positiva. Somos a terceira universidade em número de programas de pós-graduação no Brasil, um dado espetacular. Mas precisamos entender que a pós-graduação existe em função da graduação. Neste sentido, envidaremos to­dos os esforços para estabelecer um diálogo consistente entre a pesquisa e o ensino de graduação. Na pós-graduação, temos algu­mas áreas estratégicas que cresceram por si sós e que atingiram excelência internacional, como as Geociências e o NAEA, ambas notas 7, conceito máximo na avaliação da Capes. Temos um conjunto de programas nota 6, en­tre os quais, estão os Programas de Psicologia e de Letras. E temos um conjunto grande de programas com nota 5, que é a excelência nacional. Sem perder de vista o já consoli­dado, precisamos ampliar os programas de pós-graduação nos campi do interior. Penso que é muito importante consolidá-los em suas totalidades.

A Universidade no mundo

A UFPA está inserida no mun­do por meio de convênios com várias instituições e associações estrangeiras. Na gestão passada, foi criada a UFPA Internacional, que dotou o Campus Básico de um conjunto de blocos destina­do às cátedras e às estruturas científicas e acadêmicas cor­respondentes ao mundo inteiro. Recebemos, quase diariamente, pessoas de todo o mundo. A Amazônia e a UFPA, em parti­cular, são muito atrativas. Pre­tendemos fazer da Universidade um espaço o mais internacional possível. Recentemente, estive em Mendonza, na Argentina, participando da reunião da UGM, uma estrutura importante que congrega as universidades da América Latina. Por intermé­dio da UGM, a UFPA vai receber uma quantidade expressiva de alunos estrangeiros, enquanto preparamos o envio dos nossos alunos para as instituições da América Latina. Em breve, viajarei à Guiana, à França e à África, com vista à ampliação da inser­ção da UFPA no mundo. Pretendo fortalecer a Cooperação Sul-Sul, um trabalho que vinha realizan­do como vice-reitor. Temos uma relação forte com a Europa, os Estados Unidos, o Canadá e o México, mas precisamos ter uma relação mais forte com a América Latina e com a África. Precisamos também estimular a formação dos nossos estudantes em línguas estrangeiras, para que estejam prontos para essa inser­ção no mundo. Não creio que hoje consigamos fazer uma boa universidade sem que ela esteja em diálogo permanente com o mundo. A universidade precisa ser universal como se anuncia no próprio nome.

Ampliar a diversidade

É maravilhoso constatarmos que somos a universidade que lidera a questão da diversida­de entre as demais instituições brasileiras. Somos a que mais tem estudantes quilombolas e indígenas, assim como temos uma considerável quantidade de estudantes latinos e africanos. Estamos trabalhando para termos mais estudantes trans e pessoas LGBTQI+. Oferecemos escritórios para grande parte desses estu­dantes no Campus Básico. Mas queremos avançar mais, porque este é também um processo de aprendizado permanente. Temos que trabalhar para educar as pes­soas a fim de que entendam que o ser humano é essa complexidade toda. Continuo afirmando que é a diversidade que nos une.

Beira do Rio edição 173

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