Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Página inicial > Nesta Edição > Histórias e saberes regionais
Início do conteúdo da página

Histórias e saberes regionais

Escrito por Beira do Rio | Publicado: Sexta, 10 de Janeiro de 2025, 15h15 | Última atualização em Quarta, 08 de Janeiro de 2025, 19h23 | Acessos: 121

E-book traz conteúdo que valoriza a diversidade da Amazônia

imagem sem descrição.

Por Evelyn Ludovina. Ilustrações: acervo da pesquisa

Entre estudos, pesquisas e atividades em sala, os pro­fessores do ensino fundamental desempenham um papel importante: além de ensinar, eles introduzem as crianças no universo da ciência, despertando nelas o interesse e o respeito pelo ambiente ao seu redor. Dessa forma, os educadores são agentes fundamentais para aju­dar os pequenos cidadãos a perceberem que a natureza está entrelaçada com a vida de cada um e é parte integral de sua existência. Apesar de nossa tendência em separar natureza e humanidade, é crucial entender que a natureza humana faz parte do todo natural.

Este primeiro contato é essencial para que as crianças se sintam pertencentes ao meio ambiente e responsáveis por ele, dando os primeiros passos para se tornarem adultos conscientes e comprometidos com a preservação da natureza. Os conteúdos abordados em sala de aula devem estimular os alunos a refletir criticamente sobre ações e comportamentos que se estendem além do espaço escolar. Com esse propósito, surgiu o E-book Histórias para Entender e Ensinar Ciências na Amazônia: Educação CTS a partir de temáticas regionais decoloniais no Ensino Fundamental. O material busca incentivar reflexões sobre as relações que moldam a construção do conhecimento científico e sua presença no cotidiano escolar.

Produzido por Iris Caroline dos Santos Rodrigues como parte de sua dissertação de mestrado, o e-book é um recurso educacional voltado para o ensino de Ciências. Sob orientação da professora Ana Cristina Pimentel Carneiro de Almeida, Iris desenvolveu o projeto no Programa de Pós-Graduação em Docência em Ciências e Matemáticas (PPGDOC/Iemci). Nascida em Belém e com passagem por São Caetano de Odivelas, Iris traz para o e-book a vivência e as influências culturais dessa região, reforçando a importância de uma educação que dialogue com a dinâmica amazônica.

Obra apresenta ciência e cotidiano nos estudos de caso

Segundo a pesquisadora, o e-book nasceu do desejo de trazer visibilidade a uma "Amazônia miúda", uma Amazônia que vive nas florestas, nas cidades, nos rios e que se manifesta em cores, músicas, histórias, saberes e crenças. É uma Amazônia que existe e resiste, mas, dentro da lógica capitalista, é frequentemente retratada apenas como um bioma exuberante, ignorando a complexidade de seus povos e culturas. A escolha desse tema reflete a intenção de resgatar os saberes dos diversos atores que compõem a sociedade amazônica: do pescador de caranguejos à pesquisadora da universidade, cada um tem muito a dizer e a contribuir para o entendimento da região.

O material está organizado em duas partes: uma seção teórica, que aborda a Educação CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), a decolonialidade e o ensino de Ciências na Amazônia; e uma seção metodológica, baseada em Estudos de Caso de Ensino. Nesta segunda parte, são apresentados cinco casos desenvolvidos pela autora, com sugestões de atividades para aplicação em sala de aula, incentivando uma educação científica que dialogue com a realidade amazônica e valorize o conhecimento local.

Os estudos de caso foram todos elaborados por Iris Caroline Rodrigues, que escolheu temas que permitissem trabalhar o conteúdo de forma crítica e não reducionista. Seu critério foi selecionar assuntos que unissem decolonialidade, cultura e ciência, mantendo uma conexão com os conteúdos abordados em sala de aula para propor uma alternativa enriquecedora no ensino. Essa proposta busca relacionar o ensino de Ciências com o cotidiano dos alunos, permitindo-lhes observar tanto a Via Láctea, da Astronomia Ocidental, quanto a constelação da Anta do Norte (Tapi’i), do povo Guarani.

Metodologicamente, o material promove a construção coletiva do conhecimento, incentivando a argumentação, a autonomia, a formulação de hipóteses e a solução de problemas.

A coletânea traz temas que integram o conhecimento científico com saberes populares da Amazônia, promovendo reflexões sobre o meio ambiente e a cultura regional. Entre elas, estão "Quando eu descobri que a Via Láctea era uma reunião de antas", a astronomia indígena é explorada ao lado dos impactos do crescimento urbano na visibilidade das estrelas; "O mistério da pedra do Saci" aborda o intemperismo e a transformação da paisagem pela monocultura; e "O encantador de caranguejos" ressalta a importância dos manguezais e os desafios dos pescadores durante o período de defeso.

A autora compartilha uma experiência que ilustra o impacto desses temas: “Eu ministrei uma palestra para professores de Ciências, em Castanhal, e uma das professoras contou que trabalhou em comunidades indígenas que possuem seu próprio calendário, influenciado por uma etnoastronomia própria. É interessante ver que os temas abordados não estão esgotados. Deixo isso bem claro no texto”.

Abordagem promove visão crítica e integrada da Ciência

A Educação CTS (Educação em Ciência, Tecnologia e Sociedade), conceito central do e-book e da pesquisa citados, é uma abordagem educacional, alternativa ao ensino tradicional, que promove uma visão mais crítica e integrada da ciência e da tecnologia, destacando seus impactos sociais, éticos e ambientais. O objetivo é formar cidadãos conscientes, que questionem o papel da ciência em suas vidas e participem ativamente de discussões sobre temas como sustentabilidade, saúde pública e inovação, conectando o aprendizado científico às questões do cotidiano amazônico. Para isso, o e-book propõe que os educadores incentivem, em cada aula, os alunos a reconhecerem seu lugar na Amazônia, compreendendo-se como parte de um ecossistema vivo e diverso.

“Quando uma pessoa consegue entender um problema, ela desenvolve uma expectativa de como resolvê-lo, por exemplo, cobrar de uma empresa de mineração que está despejando rejeitos de maneira indevida ou de uma empresa que não tem responsabilidade com a reciclagem de resíduos sólidos. Esse olhar crítico é fundamental para formarmos cidadãos que consigam atuar como produtores de ciência no país”, explica a pesquisadora.

As histórias podem e devem ser adaptadas conforme o contexto em que são inseridas. O material foi projetado para que o professor o adapte ao contexto dos alunos, investigando os temas presentes no cotidiano das crianças e tornando o aprendizado mais lúdico e prático. Isso reduz a homogeneização, preserva as marcas culturais e enriquece os questionamentos.

Cada cenário educacional é único e traz desafios que precisam ser enfrentados com criatividade e comprometimento. “A atuação dos professores é um trabalho de formiguinha. Cada ação, nova metodologia e pequena adaptação no ensino contribuem para transformar a educação em uma experiência viva e em movimento, capaz de atender às necessidades reais dos alunos e da sociedade”, conclui Iris.

Sobre a pesquisa: A dissertação Histórias para Entender Ciências na Amazônia: Educação CTS a partir de Temáticas Regionais Decoloniais no Ensino Fundamental foi defendida por Iris Caroline dos Santos Rodrigues, em 2022, no Programa de Pós- Graduação em Docência em Ciências e Matemáticas (PPGDOC/Iemci), da Universidade Federal do Pará, sob orientação da professora Ana Cristina Pimentel Carneiro de Almeida.

 Beira do Rio edição 173

Fim do conteúdo da página