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Laboratório une tradição e tecnologia

Escrito por Beira do Rio | Publicado: Sexta, 10 de Janeiro de 2025, 15h15 | Última atualização em Sexta, 10 de Janeiro de 2025, 18h10 | Acessos: 156

Nanoprodutos com bioativos atendem a setores da saúde e agricultura

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Por Walter Pinto. Foto: Alexandre de Moraes

Tão importante quanto a geração de conhecimento e a qualificação de pessoal para o mercado de trabalho, fazer chegar à sociedade os conhecimentos, as tecno­logias e os produtos desenvolvidos nos laboratórios faz parte das preocupações dos vários grupos de pesquisa da UFPA. É dentro deste trinômio ensino, pesquisa e extensão que atua o Laboratório de Biomateriais, Bioprodutos e Tecnologias de Biofabricação (Labbio 3D), do Instituto de Ciências Biológicas, um dos mais novos e atuantes da UFPA.

O Labbio 3D desenvolve materiais e produtos para as áreas da saúde e agricultura utilizando recursos naturais da região. O grupo de pesquisa foi criado em 2017, mas sua trajetória foi interrompida durante a pandemia de covid-19. No início de 2024, o laboratório foi estruturado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Apesar da curta trajetória, o Labbio 3D possui mais de dez prêmios em editais de inovação e pesquisa científica.

Liderado por Marcele Fonseca Passos, professora adjunta da Faculdade de Biotecnologia (ICB/UFPA), doutora e mestre em Engenharia Química pela Unicamp, o Labbio 3D é um laboratório de biofabricação que desenvolve órteses, biocurativos, biocosméticos, biofertilizantes e fertilizantes organominerais.

Os materiais para a área da agricultura são produzidos em processos nanoestruturados e com resíduos agroindustriais; os de saúde agregam, além da nanotecnologia, a técnica da manufatura aditiva, conhecida como impressão 3D, empregada no desenvolvimento de protótipos e de órteses. Estas últimas podem substituir o gesso em fraturas, eliminando problemas de oxigenação e irritação da pele. O laboratório é o primeiro da UFPA a possuir uma bioimpressora 3D, tecnologia empregada no desenvolvimento de biocurativos para cicatrização de feridas.

Um dos objetivos do laboratório é fazer chegar aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) os materiais produzidos para a área da saúde, como os biocurativos feitos com base no conhecimento tradicional, resultando em produtos de baixo custo. A copaíba, por exemplo, é um dos bioativos da Amazônia empregados na produção de curativos. Marcele Passos informa que o laboratório desenvolveu uma membrana associada à copaíba, a qual, aplicada à ferida, tem a capacidade de absorver a matéria exsudada, o pus. Essa ação lhe dá maior eficiência por não grudar no ferimento, como ocorre com a gaze.

Produzida nos formatos de esparadrapo e filme, a membrana desenvolvida no Labbio 3D tem ação antimicrobiana e anti-inflamatória. Ela impede a proliferação de microrganismos indesejados, além de melhorar a oxigenação no local.

Produção passa por rigorosas fases de análise

O emprego de bioativos (extratos e óleos vegetais) da Amazônia pelo Labbio 3D passa por diversas fases, a começar pela prospecção, ou seja, a busca e identificação de compostos biológicos adequados ao objetivo da pesquisa. No caso de feridas, a procura é por bioativos que tenham propriedade antimicrobiana. Na fase seguinte, é realizado um estudo individual do bioativo para constatar suas propriedades e determinar a concentração necessária para alcançar a ação medicamentosa. Há de se considerar que os bioativos possuem certa variabilidade, como no caso da copaíba, cujo óleo difere segundo a estação da extração (inverno ou verão) e a localização geográfica da árvore.

Em seguida, é realizada a combinação do bioativo com outras matrizes, normalmente matrizes poliméricas, por meio da adição de diferentes tecnologias. O resultado é a produção de diferentes formatos de materiais. No caso dos curativos, o Labbio produz géis, películas, filmes e membranas. “Então, dependendo do grau e do tipo de ferida, usamos uma tecnologia específica. Após a realização dessas etapas, fazemos os ensaios in vitro com células cultivadas em laboratório, em parceria com o Instituto Evandro Chagas. Somente depois, passamos para os testes in vivo, realizados em camundongos”, explica Marcele Fonseca Passos. No entanto, como há uma grande demanda, o laboratório está desenvolvendo uma nova vertente, chamada “pele sintética”, que vai reduzir a quantidade de animais empregados nos testes in vivo.

Na área agrária, o Labbio 3D atua em parceria com pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) para o desenvolvimento de biofertilizantes com resíduos agroindustriais. O laboratório é responsável pelas formulações, cabendo aos pesquisadores da Ufra a realização de testes, dado o domínio que possuem em relação ao solo e à aplicação de produtos agrários.

Segundo a coordenadora, o Labbio 3D, em parceria com o Grupo Microbioma, atua na prospecção de microorganismos e bioativos amazônicos conforme o tipo de aplicação propiciada pela planta em estudo (fungicida, bactericida). Em outra vertente, o laboratório está desenvolvendo a produção de cosméticos enquadrados como bioprodutos. Os estudos estão se concentrando no desenvolvimento de máscaras faciais para acne, hidrogéis e materiais para regeneração de tecidos.

É extenso o rol de parcerias que o Labbio 3D mantém, dada a diversidade de produtos que pesquisa. Dentro da UFPA, o laboratório atua em parceria com pesquisadores de diferentes áreas. É o caso, por exemplo, do desenvolvimento de uma membrana com óleos essenciais e de um bionanossistema para tratamento da leishmaniose.

“A nossa equipe está espalhada na UFPA e nas instituições com quem temos parcerias, como o Instituto Evandro Chagas, o Museu Emílio Goeldi, a Uniara, a UFMG e a UFPB, entre outras. Eu não poderia desenvolver todas as pesquisas sozinha. Sem o apoio dos meus alunos e dos parceiros, este laboratório não iria para frente.”, diz a coordenadora.

Saiba Mais

Recentemente, o Labbio 3D aprovou projeto em um dos editais da Fapespa, o de grupos de pesquisas liderados por mulheres. O edital disponibiliza suporte financeiro para contratação de bolsistas, auxílio para participação em congressos e publicação de artigos em revistas científicas. "Nosso objetivo é estabelecer uma parceria com o SUS e aumentar a colaboração com instituições de Ciência e Tecnologia de diferentes estados. Por isso a ampliação física do laboratório é essencial”, sinaliza a coordenadora.

Beira do Rio edição 173

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