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Resenha: Diversas formas de Ver-o-Peso

Publicado: Segunda, 04 de Julho de 2016, 18h39 | Última atualização em Sexta, 26 de Agosto de 2016, 15h21 | Acessos: 3196

Livro reúne estudos antropológicos sobre o principal mercado de Belém

Por Walter Pinto  Foto: reprodução

Eleito recentemente o lugar que mais identifica Belém, o Ver-o-Peso atrai diariamente milhares de pessoas, entre trabalhadores, consumidores e visitantes. Trata-se de uma enorme feira a céu aberto, composta por vários elementos, na qual se destaca o velho mercado com suas quatro torres de ferro, marco característico histórico e arquitetônico do lugar. Coordenadora do Projeto “Ver-o-Peso: Estudos antropológicos no mercado de Belém”, a antropóloga Wilma Marques Leitão organizou duas publicações que reúnem artigos escritos por pesquisadores de diferentes áreas sobre aquele espaço que sintetiza a cultura e a culinária amazônica.


O segundo volume chega às livrarias em meio à intensa discussão sobre um polêmico projeto de reforma da Prefeitura Municipal de Belém, que, segundo os críticos, retira do Ver-o-Peso a sua principal característica, a de ser uma feira a céu aberto. Conforme observa a organizadora do livro, praticamente todos os artigos, cada um ao seu modo, apresentam a preocupação de tratar o Ver-o-Peso sob a perspectiva do patrimônio.


Dos nove artigos que compõem o segundo volume, oito tratam do mercado sob aspectos diferentes, como história, valor, culinária, economia, conhecimentos tradicionais, relações sociais, transmissão de saberes, imagens e cores. O nono, escrito por Sérgi Garriga e Manoel Guárdia, da Universitat Politécnica de Catalunya, trata de um modelo de modernização de mercados colocado em prática na cidade catalã de Barcelona, que certamente deveria ser lido pelos gestores municipais de Belém, ávidos por reformarem o velho mercado paraense com as marcas próprias das suas administrações, muitas vezes, descaracterizando as linhas daquele símbolo que identifica a cidade e, até mesmo, confunde-se com ela.


A origem do Ver-o-Peso remonta aos primeiros nove anos de fundação da quatrocentona Belém do Pará, quando, em 1625, foi instalada uma balança às proximidades do alagadiço da Juçara, depois, denominado Igarapé do Piri, na esquina da antiga rua dos Mercadores. A balança tinha por finalidade verificar o peso dos produtos que chegavam nas embarcações para efeito de cobrança de impostos devidos à Coroa. Um pouco dessa história é reconstruída no artigo de Celma Pont Vidal, da Faculdade de Arquitetura da UFPA, que trata dos mercados públicos de Belém.


Em “O valor que o Ver-o-Peso tem”, Paola Maués e Tereza Scheiner analisam o espaço segundo seu valor de musealidade, defendendo a ideia de Museu Integral como forma de abrir uma nova perspectiva de entendimento para o velho mercado, contribuindo para ações que podem ser realizadas com o objetivo de valorização e preservação. Rosângela Britto e Flávio Leonel Silveira trazem reflexões sobre a exposição museológica “Paisagens do Ver-o-Peso: lugar, práticas e ofícios”, realizada em 2011, discutindo os processos de produção e de recepção daquela mostra e contribuindo com as possibilidades de representar, via exposição, os lugares de memórias da cidade.


O processo de escolha da cor aplicada ao Mercado do Ver-o-Peso foi o tema do artigo assinado por Benedito Silva, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA. Trata-se de uma análise sobre a contribuição dada pelo site Ver-o-Site, criado em 2012. Foi por meio desse site que o público pode se manifestar em relação à cor que o Mercado deveria receber, uma iniciativa do Instituto de Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional.


Em seu artigo sobre a culinária e economia, Wilma Leitão circula por entre as barracas de frutas, legumes, farinha, açaí, camarão e vendas de peixe frito, para ressaltar que o Ver-o-Peso consegue também “ser uma aventura para os sentidos, uma vez que os produtos ali comercializados são mais que mercadorias: são riquezas da floresta, elaboradas e mantidas pelas populações tradicionais”.


Os dois últimos artigos tratam da comercialização de peixes e da transmissão de saberes no setor de farinhas. O primeiro, escrito a quatro mãos, analisa as regras estabelecidas num negócio geralmente percebido como informal. O segundo mostra o cotidiano como construtor e transmissor de um saber que está além da escola, mesmo que a maior parte dos entrevistados não reconheça tal saber.

Serviço: Ver-o-Peso: estudos antropológicos no mercado de Belém – Volume II. Wilma Marques Leitão (organizadora). Editora Paka-Tatu, 2016.

Ed.131 - Junho e Julho de 2016

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