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Resenha: A Era do Rádio na cidade dos sonoros

Publicado: Terça, 13 de Dezembro de 2016, 15h36 | Última atualização em Quarta, 14 de Dezembro de 2016, 16h45 | Acessos: 8621

Maurício Costa reconstrói parte da história da radiofonia em Belém

Por Walter Pinto Foto Reprodução

Nos estudos históricos sobre os meios de comunicação no Brasil, o período compreendido entre o término da Segunda Guerra Mundial e o final da década de 1950 é conhecido como a Era do Rádio. Duas décadas depois de surgir no Brasil, o rádio alcançaria notável desenvolvimento em meados dos anos 40 por conta do aporte publicitário agora liberado, levando para os lares brasileiros entretenimento por meio de uma programação em que a música, transmitida diretamente dos programas de auditórios das emissoras, ocupava a maior parte das transmissões.

Foi um momento do lançamento de muitas carreiras e de consagração de outras que já estavam na estrada, tanto para cantores, grupos vocais, orquestras e músicos, como também para “os homens de rádio”, os apresentadores. O público lotava os auditórios das emissoras de rádios num tempo ainda sem televisão – somente seria inaugurada em 1951 – seja porque era formado por fãs apaixonadas por seus ídolos, seja porque fazia parte de esquemas midiáticos de promoção de alguns deles.


No Pará, a primeira emissora a entrar em operação foi a Rádio Clube, em 1928. A segunda levaria vinte e seis anos para surgir. Coube ao grupo Diários Associados, do empresário Assis Chateaubriand, inaugurar, em 1954, a Rádio Marajoara, ampliando sua rede de comunicação no Estado, no qual era proprietário de um grande jornal, A Província do Pará, relançado em 1947, após 21 anos de inatividade. As ondas dessas duas rádios embalaram os sonhos dos paraenses daquele período, de grande desenvolvimento e avanços tecnológicos, que se estabeleceu entre duas ditaduras, a do Estado Novo e a militar, de 1964.

É sobre esse período fecundo da rádio paraense em Belém do Pará que o livro Cidade dos sonoros e dos cantores: Estudo sobre a Era do Rádio a partir da capital paraense, do antropólogo e historiador Antonio Maurício Costa, trata em suas 150 páginas. O autor é professor da Faculdade de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, da UFPA. Suas pesquisas e publicações no campo da cultura popular colocam-no como uma referência na Amazônia. O texto de Cidade dos sonoros e dos cantores é formado por seis artigos escritos em épocas diferentes, mas a uniformidade temática garante a fluidez da leitura como uma obra escrita de um só fôlego.

Nos seis capítulos que compõem o livro, Costa reconstrói parte da história da radiofonia em Belém, desde o período inicial dos sonoros. Adentra os salões de dança e o convívio social dos clubes da elite e do subúrbio, nos quais imperaram figuras lendárias da arte da dança popular. Revisita antigos programas radiofônicos em busca do sotaque amazônico identificador de uma maneira de fazer rádio no Pará. Investiga memórias que trazem à tona artistas que fizeram época nos microfones locais. E, por fim, oferece ao leitor de hoje a história de um ídolo paraense daquele período, o grande Ary Lobo, cantor que era conhecido por “Cidadão Samba” no Pará, mas conquistou o Brasil como intérprete de músicas nordestinas, tendo gravado nove Lps e alcançado a marca dos cem mil discos vendidos.

No final da década de 1930, a Rádio Clube do Pará imperava soberanamente sem concorrente. Os períodos de transmissão eram curtos e a programação musical despontava como principal atração para os ouvintes. Ainda sem auditório próprio na década de 1940, os programas musicais ao vivo eram transmitidos de clubes esportivos e de colégios de Belém. Um sucesso da época, conta-nos Costa, foi o “Navio Escola”, um programa de calouro que, como vários outros transmitidos até o final dos anos 50, revelou muitos músicos e cantores paraenses. O pianista Guiães de Barros regia a orquestra da emissora, antes de se transferir para a concorrente recém-fundada Rádio Marajoara.

Coube à Marajoara inaugurar o primeiro auditório radiofônico paraense, numa área privilegiada, próximo à Praça Justo Chermont, na qual  se instalava, durante o Círio, o Arraial de Nazaré. O auditório tinha capacidade para mil pessoas e os programas eram realizados sempre à noite. Na década de 50, o público pagava para assistir aos shows de artistas nacionais consagrados como Cauby Peixoto e Ângela Maria. Por sua vez, os espetáculos de artistas do cast da emissora eram gratuitos. O auditório ficava igualmente lotado quando Alzirinha Camargo, Cleide Lima e Tácito Cantuária, entre outros, cantavam.

A fama que as apresentações nos rádios davam aos artistas paraenses irradiava-se pelos municípios. O circuito pelo interior era constante. E havia os que se sentiam estimulados a conquistas maiores e  buscaram o sucesso no Rio de Janeiro, a meca da música brasileira na época. O livro mostra que o desenvolvimento de carreiras e performances de artistas paraenses da canção na Era do Rádio “se deu a partir da interação entre jornalistas, público ouvinte e espectador, além de profissionais do meio radiofônico. Ao mesmo tempo”.

Serviço: Cidade dos sonoros e dos cantores: estudo sobre a Era do Rádio a partir da capital paraense. Antonio Maurício Costa. Editora: Imprensa Oficial do Estado.

Ed.134 - Dezembro e Janeiro de 2016/2017

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