O teatro das coisas
Objetos ganham vida nova no teatro de animação
Por Maria Luisa Moraes Foto Acervo da Pesquisa
Quantas vezes somos surpreendidos pela beleza das coisas simples? Talvez isso aconteça justamente por, na maior parte do tempo, essas coisas passarem despercebidas aos nossos olhos. Nesse sentido, o Projeto de Extensão “Teatro das Coisas: Reaproveitamento Material e Imaterial do Mundo” propõe um novo olhar para objetos que, cotidianamente, são ignorados ou jogados fora.
“Eu olho para os objetos com cuidado, com afeto, com carinho. O ‘Teatro das Coisas’ tem essa obrigação. Nós precisamos das coisas, nós não vivemos, por exemplo, sem parede, sem chão etc.”, explica Aníbal Pacha Correia, professor da Escola de Teatro e Dança da UFPA e coordenador do projeto.
Trabalhando há 18 anos no Grupo InBust de Teatro com Bonecos, o professor conta que, no grupo, são desenvolvidos trabalhos ligados ao teatro de animação e também ao reaproveitamento de materiais. “Teatro de animação envolve máscaras, bonecos, sombras, objetos, enfim, tudo aquilo que pode ser manipulado e disponibilizado para o teatro”, explica Aníbal Pacha.
Em seu ofício como artista de teatro, Aníbal costuma utilizar esse olhar especial sobre as coisas. Em 2011, trouxe essa abordagem para a Universidade, na qual passou a atuar como professor. “Senti a necessidade de montar um projeto de extensão e trouxe esse trabalho que eu já desenvolvo como artista de teatro para dentro da UFPA. Na ETDUFPA, chamei a atividade de ‘oficina’ para provocar as pessoas, mas a proposta do projeto é promover encontros: as pessoas não são obrigadas a ir a todos, elas podem participar aleatoriamente, não há limitações, pois o conteúdo começa e encerra no mesmo dia”, ele explica.
Metodologia é mais emotiva e menos técnica
O diferencial deste projeto de extensão é o desenvolvimento de uma metodologia mais emotiva e menos técnica. Quando fala em reaproveitamento, Aníbal Pacha faz questão de demarcar que isso não significa apenas reciclagem. “Nós tiramos as coisas de uma condição, ou de um estado, e as colocamos em outro. No nosso caso, esse outro estado é a arte, o teatro de animação”, afirma.
O reaproveitamento envolve os objetos materiais e também as histórias, que podem ser encenadas de várias maneiras. Na atual fase, o “Teatro das Coisas” estendeu-se tanto para grupos de teatro de comunidades, igrejas, bairros quanto para professores que se interessam pelas técnicas do projeto.
Durante o desenvolvimento do projeto, o professor muda-se para a comunidade em questão para entender a dinâmica e moldar algo único para aquele lugar. Aníbal diz que esta pesquisa inicial acaba forçando os participantes a olharem para o entorno.
Outra preocupação é com a formação de professores. “A proposta é que o professor comece a olhar, por exemplo, a quantidade de papel que a copiadora da escola faz e que não serve pra nada, e pense ‘O que eu posso fazer com isso?’”, comenta.
Aníbal divide o projeto em dois momentos ao longo do ano letivo. No primeiro semestre, ele trabalha com a comunidade (educadores populares e artistas de teatro dos centros comunitários). No segundo semestre, a atenção é concentrada nos grupos de professores. Pacha diz-se muito feliz com a repercussão do projeto. “Tudo que eu faço é para as pessoas. Se eu não alcançá-las, o trabalho não faz sentido”, conclui.
Ed.135 - Fevereiro e Março de 2017
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