Envelhecimento e resistência
Tese discute a invisibilidade de idosos homoafetivos em Belém
Por Gabriela Bastos Foto Acervo da Pesquisa
Coletar relatos de idosos homoafetivos de Belém e voltar a atenção para as memórias que narram a sujeição sofrida por eles no ambiente escolar. Era esse o objetivo de Dário Azevedo, professor e pesquisador do Campus Castanhal/UFPA, quando iniciou a sua pesquisa de doutorado. “O que me interessou foi saber como eles resistiram a isso e se eles abandonaram a escola, pois é alto o número de sujeitos homoafetivos, do período estudado, que não têm alta escolaridade”, conta o professor.
Dário Azevedo lembrou-se da sua vivência para chegar ao tema. “Quando trabalhei na Secretaria de Desenvolvimento e Ciência Social, no Programa de Transferência de Renda, a maior dificuldade era com os idosos. Eles tinham seus direitos constantemente violados, seus procuradores só se importavam com o dinheiro. O medo do abandono, a falta de empatia, o desrespeito e a violação de direitos são vivências constantes na vida de idosos em Belém. Muitas pessoas se esquecem de que todos chegarão a essa fase da vida”, lamenta.
Defendida no Programa de Pós-Gradução em Educação, sob orientação do professor Genylton Odilon Rêgo da Rocha, a tese Vias e Trajetos de Escolarização de Sujeitos Homoafetivos velhos (as) na cidade de Belém traz uma abordagem transversal, pois seu foco não é só a escolarização, e sim o envelhecimento, a homoafetividade e a resistência. “É importante verificar o papel das instituições, como elas são controladoras, castradoras e como as pessoas que estão dentro delas conseguem resistir e criar o que chamamos de resiliência, sobreviver a durezas da discriminação, da homofobia e da rejeição”, alerta Dário Azevedo.
A pesquisa foi desenvolvida em etapas: a fase experimental, quando foram realizadas entrevistas por indicação de amigos e pessoas que tinham disponibilidade; na segunda fase, o pesquisador elaborou um roteiro baseado nas informações obtidas na fase experimental e definiu os sujeitos com os quais trabalharia. “Eles precisariam se assumir, se nomear como sujeito homoafetivo ou qualquer uma das classificações que a sigla LGBT define”, afirma o professor.
Em 2030, o Brasil será o 6º país com mais idosos
A metodologia utilizada foi a história de vida. “Para os autores com quem eu trabalho, Michel Foucault (1926-1984), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Gilles Deleuze (1925-1995), o prazer, o desejo, a sexualidade são vias de mão dupla, tudo pode acontecer. Além deles, minha metodologia estava ancorada num dado do IBGE: em 2030, o Brasil será o sexto maior país de população de idosos”, explica Dário Azevedo.
A pesquisa foi bem recebida e obteve resultados além do esperado. Um deles foi a confirmação de que os sentimentos de afeto e prazer estão presentes em todas as idades e a ideia do corpo dócil deve ficar no passado. “Há casais de idosos, na minha pesquisa, que não têm prática sexual, mas o fato de dormirem juntos, assistirem a um filme, a uma peça teatral faz com que vivam do afeto. Então fica claro que afeto todo mundo tem”, revela o pesquisador.
Outro resultado comemorado é o fortalecimento do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Envelhecimento e Sexualidade (NEPES), que já existia e, hoje, tem dois bolsistas de Iniciação Científica. Dário Azevedo ressalta sua preocupação com a falta de políticas da Universidade para os seus servidores (técnicos e professores) que estão envelhecendo. “É uma inquietação ver como a Universidade olha para as pessoas que estão caminhando para a velhice, como a Universidade se prepara para contribuir com essas políticas. Nós estamos deixando de lado uma reflexão que precisa ser feita e é muito preocupante”, finaliza o professor.
Leia a tese, veja o documentário
Para dar visibilidade à pesquisa, foi realizado o documentário Velhos Sujeitos.Outros Transgressivos. O trabalho audiovisual conta com oito depoimentos que fizeram parte da tese e destacam-se pela intensidade da narrativa. O documentário está disponível no Youtube.
Ed.135 - Fevereiro e Março de 2017
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