Entrevista: “Ainda há muito a avançar”
Pró-reitor apresenta novas propostas para os cursos de graduação
Por Walter Pinto Foto Alexandre Moraes
Titular do Instituto de Ciências Biológicas, doutor em Farmacologia pela Universidade de São Paulo, com diversos estágios de pós-doutoramento nos Estados Unidos e na Alemanha, o professor Edmar Tavares da Costa é o atual pró-reitor de Ensino de Graduação da UFPA. Paralelamente à carreira científica na área de neurologia, ele acumula experiência no ensino de graduação, como consultor do MEC/Inep para avaliação in loco das faculdades de graduação, entre outras atividades, e na área acadêmica, tendo exercido a direção do Instituto de Ciências Biológicas até recentemente. Nesta entrevista, Edmar Costa apresenta algumas das ações que começa a efetivar com vista ao avanço da qualidade do ensino de graduação da UFPA. Entre elas, o aprimoramento da infraestrutura laboratorial da graduação e o incentivo à construção de projetos pedagógicos que reforce a flexibilização curricular.
Onde avançar
A partir do reconhecimento do papel da Universidade como instrumento de transformação social, observou-se, na última década, um processo de expansão da educação superior pública e gratuita, marcada principalmente pela ampliação das oportunidades de acesso à educação superior. A despeito de estarmos longe de alcançar metas traçadas no último Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020), que estabelecia provimento de oferta da educação superior a pelo menos 33% de jovens (18-24 anos), é inegável que as políticas públicas melhoraram, no geral, as condições para a ampliação do acesso e a permanência na educação superior, no nível da graduação presencial, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais.
Na UFPA, experimentamos aumento na oferta de cursos e, assim, no número de vagas, melhoria na avaliação desses cursos pelo MEC, aumento de vagas de servidores docentes e técnico-administrativos, além de ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil. No entanto acredito que ainda há muito a avançar, especialmente no cenário atual, que não nos permitirá expandir no mesmo ritmo da década anterior em função da limitação dos recursos aprovados para o orçamento das universidades.
Assim, a administração atual da Universidade resolveu apostar no que parece algo bastante ousado: suprir com mais recursos as Pró-Reitorias “fins” (de Ensino, de Pesquisa e de Extensão). A Proeg recebeu, para este ano, um incremento da ordem de três milhões de reais, que serão utilizados em editais voltados à melhoria da qualidade do ensino de graduação na Instituição. Outro limitante, além do orçamentário, diz respeito ao nosso modelo atual de ensino, muito voltado para o aprendizado restrito às salas de aula. A atual gestão convidará, muito em breve, a comunidade universitária a discutir um modelo de construção para projetos pedagógicos de curso o qual reforce a flexibilização curricular, entendida como a possibilidade de se migrar de um modelo rígido de condução da graduação para uma situação na qual o aluno poderá imprimir ritmo e direção ao seu curso, com a utilização de mecanismos que a Instituição já oferece em termos de opção de atividades acadêmicas na estruturação dos currículos, que podem incluir disciplinas, seminários, participações em eventos, atividade acadêmica a distância, estágios, iniciação à pesquisa, docência e extensão, além de outras atividades, que passarão a integrar um bom percentual da carga horária total do seu curso.
Ensino e LabInfra
O LabInfra, como denominamos o Edital de Apoio à Infraestrutura de Laboratórios de Ensino, é uma proposta inserida em um Programa de Apoio à Qualificação do Ensino de Graduação, gerenciada pela nova Diretoria de Inovação e Qualidade de Ensino da Proeg. O programa destina-se a unidades e subunidades acadêmicas da UFPA, responsáveis pela oferta de cursos de graduação cujos projetos pedagógicos priorizem atividades regulares em laboratórios de ensino. Tem o objetivo de atualizar e aprimorar a infraestrutura laboratorial utilizada em atividades regulares de formação na graduação e prevê recursos para reformas, aquisição de equipamentos e insumos, além de bolsas de monitoria para as atividades de formação realizadas nos laboratórios. Como maior novidade, as bolsas de monitoria e insumos podem ser previstas para um período até quatro anos (2017 a 2020), suficientes para o funcionamento regular dos laboratórios durante todo o período.
Como se trata de um aspecto que dependia quase integralmente das verbas das unidades, há grande demanda reprimida e não temos a pretensão de recuperar esse passivo de forma tão acelerada. Com a continuidade do edital nos próximos anos, esperamos poder atender a uma maior parcela da comunidade que precisa desse tipo de apoio, seja em termos de custeio, seja de capital.
Propostas pedagógicas inovadoras
Os editais que já vinham sendo desenvolvidos na Proeg, tal como o Proint, serão atualizados, no sentido de manter o êxito do que já foi conseguido, porém passando a exibir um aspecto ainda mais marcante da interação dos objetivos voltados à graduação, com atividades inerentes a projetos de pesquisa e extensão.
A Proeg e os egressos
Os egressos constituem uma de nossas preocupações na atual gestão. Uma nova diretoria foi criada na Proeg (Diretoria de Apoio a Docentes e Discentes), que já começou a levantar nas unidades e nas subunidades da Instituição informações sobre os egressos dos nossos cursos e sua inserção no mercado de trabalho ou ambiente de estágio. O “ensino” é uma das principais funções da universidade, sendo necessário um controle acurado das ações educacionais direcionadas aos seus alunos, com a finalidade de mensurar o resultado dos esforços empreendidos pela instituição.
Sociedade e mercado
O acompanhamento dos discentes, mesmo após sua formação, é de suma importância, por isso as universidades, depositárias das esperanças sociais de grande parte da população, precisam ter uma consistência clara de suas potencialidades e limites, bem como mecanismos eficientes para indicar diretrizes e metas em seus planos político-pedagógicos visando formar um profissional mais bem preparado para a sociedade e para o mercado. Além de levantar informações sobre os egressos, a Diretoria de Apoio a Docentes e Discentes deve estimular processos de formação discente acerca da vida corporativa e das formalidades do mundo do trabalho. Uma combinação entre os objetivos dessa diretoria e o interesse das subunidades pelo tema deve aumentar substancialmente a preparação dos alunos/futuros egressos para a realidade social, após a colação de grau.
Intercâmbio
A experiência de discentes em programas de intercâmbio nacional e internacional mostrou-se bastante enriquecedora ao possibilitar a aquisição de conhecimento e cultura diversificados. No âmbito internacional, a retirada dos cursos de graduação da abrangência de programas como Ciência sem Fronteiras representou um retrocesso na internacionalização da graduação. No entanto outras oportunidades ainda estão mantidas, como os convênios com universidades na Europa e nos Estados Unidos, além de estarmos abertos à negociação para convênios adicionais no âmbito do Mercosul. No âmbito nacional, já contávamos com o apoio do Programa de Mobilidade Nacional Santander Universidades/Andifes, que auxilia com bolsas a mobilidade entre as IFES participantes. Além disso, queremos incluir nas discussões sobre mudanças nos projetos pedagógicos dos cursos a flexibilização curricular, possibilitando ao discente realizar parte de seu percurso acadêmico em outras instituições de ensino, sem prejuízo para o tempo de integralização.
Ed.135 - Fevereiro e Março de 2017
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