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Resenha

Publicado: Segunda, 27 de Maio de 2019, 15h00 | Última atualização em Segunda, 27 de Maio de 2019, 16h03 | Acessos: 3962

A história da Amazônia vista de dentro e de baixo

Por Brenda Taketa* Foto Alexandre de Moraes

[...] Não, a verdade do passado reside antes no leque dos possíveis que ele encerra, tenham eles se realizado ou não. A tarefa da crítica materialista será justamente revelar esses possíveis esquecidos, mostrar que o passado comportava outros futuros além deste que realmente ocorreu (GAGNEBIN, 2018, p. 60)

É difícil ler A brief economic history of the Amazon (1720-1970), o mais recente trabalho do professor titular da Universidade Federal do Pará (UFPA), Francisco de Assis Costa, vinculado ao Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), e não pensar na filosofia benjaminiana sobre a história.

Em sua Breve história econômica da Amazônia (tradução livre para o título), o autor nos remete, como bem lembrou Jeanne Marie Gagnebin ao tratar do pensamento de Walter Benjamin com seus “cacos da história” ainda no início dos anos 1980, às possibilidades de se desvelar as inúmeras camadas de sentidos possíveis para os documentos históricos e de se “resgatar do esquecimento aquilo que teria podido fazer de nossa história outra história”(GAGNEBIN, 2018, p. 60).

De fato, em sua totalidade, a densa produção de Costa, no decorrer dos últimos 30 anos, parece empreender, crítica e sensivelmente, com rigor e um amplo conjunto de referências em diversos campos, uma profícua tentativa de honrar parte significativa dos “sem nome” na construção histórica amazônica.

Editado na Inglaterra pela Cambridge Scholars Publishing e comercializado pelo site de vendas Amazon.com, o novo livro, cujo conteúdo poderia facilmente se repetir em relação à vasta obra do autor, surpreende pela quantidade de atualizações teóricas e metodológicas, assim como por novas formas de combinar noções utilizadas em trabalhos anteriores, sempre em diálogo com autores de diversos campos e matrizes do pensamento.

Entre as noções encadeadas de forma heterodoxa para uma melhor compreensão da diversidade, característica não apenas das condições geográficas e biogeoquímicas, mas também da sociedade e da economia regional em diferentes momentos históricos, estão as de trajetórias tecnológicas, de economias locais e de arranjos produtivos locais, assim como a importante compreensão da domesticidade como padrão de organização de um tipo de economia que atravessará séculos, tendo como base os usos e os atributos de uma floresta viva, dinâmica, plural.

Tais ajustes permitem uma visão mais abrangente sobre processos que envolveram diversas formações socioeconômicas (camponesas agroextrativistas e agrícolas, em especial) e padrões de organização (produtiva e de comercialização), a exemplo do aviamento, ao mesmo tempo em que desvelam diversas influências (políticas, estatatais, mercadológicas, sociais) capazes de produzir mudanças em seus cursos.

De forma sintética, o livro é composto por três capítulos interdependentes e intitulados como 1) “A Amazônia colonial e sua economia (1720-1822)”; 2) “A economia da borracha (1820-1920)”; e 3) “A economia regional da Amazônia, o boom da borracha e depois (1850-1970)”.

Cada capítulo, com recortes temporais de cerca de um século, desfaz equívocos, como a ideia de que a história econômica regional pode ser explicada por “ciclos”, entre os tantos casos; confirma, baseado em novas fontes de dados, o que eram apenas hipóteses, a exemplo da produção de borracha por camponeses “caboclos” desde antes (mas também durante e depois) do aumento da demanda internacional desse produto in natura no século XIX; ou desvela novos sentidos e significados para a historiografia de uma Amazônia vista a distância e, em alguns momentos, de cima e com certa miopia pelo restante do Brasil e pelas correntes de pensamento dominantes, acostumadas a analisar a região com referenciais limitadores e condicionadas a perceber a biodiversidade como um problema, não como peculiaridade ou mesmo vantagem.

O livro traz, ainda, um amplo conjunto de fotos, mapas, tabelas e referências que fundamentam os primeiros insights do autor num plano mais empírico, criteriosamente transformados em argumentos em cada um dos capítulos.

Serviço:

A Brief Economic History of the Amazon. Autor: Francisco de Assis Costa. Cambridge Scholars Publishing. Venda: Amazon.com
(*) Brenda Taketa é jornalista e doutoranda em Desenvolvimento Socioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/UFPA.

 Ed.149 - Junho e Julho de 2019

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