Saberes e experiências sobre lazer e meio ambiente

Da redação Foto Alexandre de Moraes

O lazer é uma prática multidisciplinar, ou seja, dialoga com diversas áreas do conhecimento, como a pedagogia, o turismo, a educação física, o direito e o jornalismo, seja em instâncias culturais, seja em instâncias estéticas. Independente da prática e da área adotada, o lazer tem grande proximidade com o meio ambiente, uma vez que suas práticas são desenvolvidas, muitas vezes, em praças públicas, parques ambientais, bosques, entre outros.

Mas como essas atividades são desenvolvidas? As práticas de lazer são voltadas para a sustentabilidade? Como o lazer e a sustentabilidade são trabalhados em cursos de pós-graduação pela América Latina? Como se dá a formação dos agentes do lazer? É com o objetivo de responder a essas e a outras perguntas que surgiu o Projeto Lazer, Sustentabilidade e Meio Ambiente: Pesquisa exploratória sobre saberes e experiências desenvolvidas na América Latina.

O projeto foi elaborado pelo Grupo de Pesquisa OTIUM – Lazer, Brasil & América Latina, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a coordenação geral da professora Christianne Luce Gomes, da UFMG, e conta com a colaboração da professora Mirleide Chaar Bahia, da Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus de Castanhal.

Articulando as temáticas: lazer, meio ambiente e sustentabilidade na América Latina, o projeto tem como objetivo geral estudar e compreender a maneira como o lazer pode colaborar com a sustentabilidade e com os desafios ambientais existentes, com base nas experiências destacadas pelos programas de Pós-Graduação em Sustentabilidade e Meio Ambiente Latino-Americanos, que integram a Rede Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais). A Clacso é uma instituição não governamental, constituída por instituições públicas e privadas, que desenvolvem atividades de pesquisa, formação e extensão.

Segundo a professora Mirleide Bahia, a Rede Clacso possui duas ações, a primeira é a elaboração de uma Rede de Bibliotecas Virtuais de Ciências Sociais da América Latina e do Caribe, que disponibiliza mais de 20 mil textos completos; e a segunda é a Rede Clacso de Pós-Graduação, que engloba, atualmente, 608 programas de mestrado e doutorado, desenvolvidos em 22 países. “Para restringir o estudo, optamos por analisar apenas os programas de pós-graduação da América Latina que participam da Rede Clacso. Ao todo, são dez programas: um, na Argentina; dois, na Bolívia; dois, na Colômbia; um, em Cuba; um, no Equador; dois, no México; e um, no Brasil”, diz a professora Mirleide.

Lazer: uma forma de cidadania

O lazer está presente no artigo 24 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o qual é considerado um direito social, além de integrar as políticas públicas de diversos países do mundo. Portanto o lazer é considerado um assunto a ser tratado com seriedade, e que deve receber a atenção não apenas da comunidade mas também da universidade, do poder público e de instituições privadas.

Segundo a professora Mirleide Bahia, o ponto principal do projeto é perceber como as temáticas de lazer e sustentabilidade têm sido tratadas nos cursos de pós-graduação na América Latina. “Existem vários estudos que demonstram que houve um afastamento entre ser humano e natureza desde a urbanização e a descolonização. Mas também existe uma reaproximação quando o lazer envolve a prática de esportes de aventuras, trilhas etc. Mas essas práticas estão viabilizando a educação para a sustentabilidade? Como isso vem sendo tratado? O projeto se propõe, basicamente, a isto: entender como, a partir da formação dos profissionais, essas temáticas chegam à população”, explica a professora Mirleide.

O projeto foi contemplado por edital universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e teve seu início com o desenvolvimento de pesquisa bibliográfica baseada em estudos de livros, artigos, teses e dissertações. Essa pesquisa pretendeu, segundo as coordenadoras do projeto, “sistematizar conceitos e temas importantes para qualificar a produção de conhecimentos sobre o lazer, a sustentabilidade e o meio ambiente na América Latina”.

Após isso, o projeto partiu para a fase de contato com as coordenações dos dez cursos de pós-graduação analisados pela pesquisa, visando solicitar a colaboração de docentes, discentes e ex-alunos, por meio de questionários e entrevistas. A professora Mirleide Bahia conta que os questionários buscavam saber como a temática da sustentabilidade é aplicada nas práticas efetivas com as comunidades locais. As entrevistas, realizadas após a aplicação dos questionários, buscam aprofundar a experiência local de cada programa, analisando os elementos comuns e diferenciados de cada um.

Resultados e contribuições – A intenção do projeto é utilizar a pesquisa e as experiências externas para subsidiar políticas públicas e programas de pós-graduação que trabalhem com as temáticas abordadas. Perceber as lacunas nesses programas da Rede CLACSO é uma maneira de internalizar os conhecimentos e melhorar o debate sobre lazer, sustentabilidade e meio ambiente na Amazônia.

Ao observar as abordagens teóricas e práticas dos programas da Rede CLACSO analisados no projeto, a professora Mirleide Bahia percebeu que “existem, ainda, muitos casos de elementos estudados na teoria que não conseguem partir para a aplicação prática. Então, de certa forma, ainda há essa lacuna, mas sabemos que as práticas de lazer podem viabilizar a operacionalização da sustentabilidade no meio ambiente. Não se pode apenas falar sobre a importância das áreas verdes sem praticar isso. É necessário, por exemplo, levar as crianças para esses espaços para que elas tenham essa vivência e deem valor a isso. Assim, quando forem adultas, continuarão com essas práticas, passando esses ensinamentos para as suas famílias”.

  Ed.149 - Junho e Julho de 2019

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Lazer, Sustentabilidade e Meio Ambiente: Pesquisa exploratória sobre saberes e experiências desenvolvidas na América Latina

Responsável: Mirleide Chaar Bahia

Projeto de Pesquisa realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com a colaboração da Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus de Castanhal.