Pesquisa acompanha cães com Doença de Chagas
Animais são considerados sentinelas para áreas endêmicas
Por Flávia Rocha Foto Alexandre de Moraes
A Doença de Chagas, também conhecida por Tripanossomíase americana, é uma endemia muito comum em países subdesenvolvidos, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. No Pará, o vetor mais conhecido da doença tem o apelido de “barbeiro”. Muito relacionada ao consumo de açaí contaminado pelas fezes do inseto, a ocorrência da doença também está diretamente ligada à exploração do meio ambiente e suas consequências para a relação homem/vetor.
A Doença de Chagas pode atingir espécies domésticas, como os cachorros, que passam a apresentar problemas cardíacos, podendo chegar a óbito. A pesquisadora Ana Estelita Nascimento de Carvalho elaborou a dissertação Avaliação clínica e eletrocardiográfica de cães com Doença de Chagas naturalmente infectados, defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Animal na Amazônia (PPGSAAM/IMV), orientada pela professora Carolina Franchi João.
Durante dois anos, Ana Estelita estudou a incidência da Doença de Chagas em cachorros do distrito de Apeú, em Castanhal (PA). Segundo a dissertação, além do costume de caçar e matar o “barbeiro” e, até mesmo, se alimentar dele - uma das principais formas de contágio para esses animais, os cães podem contrair a doença por meio de ingestão de carne crua contaminada e por transfusão de sangue. Os cachorros então se tornam um reservatório doméstico do agente da doença, em virtude da sua relação estreita com o homem.
“Foram diagnosticados 18 cães com Doença de Chagas no distrito de Apeú, por meio de um exame molecular de sangue denominado PCR (Proteína C Reativa). O distrito em questão foi selecionado por ter característica periurbana, com contato próximo à região de mata. Os animais estavam distribuídos em 11 domicílios, convivendo com outros animais saudáveis, 14 animais não tinham raça definida (SRD), dois eram pinschers e dois labradores. A maioria tinha entre sete meses e 12 anos, no início do estudo”, diz Ana Estelita de Carvalho. Trimestralmente, foram realizadas avaliações, nas quais os tutores respondiam a um questionário e os animais passavam por exames físicos.
Versão assintomática dificulta o diagnóstico precoce
“Todos os cães foram caracterizados com a forma crônica da doença. Poucas alterações foram detectadas nos exames físicos durante todo o período do estudo, e as alterações nos eletrocardiogramas foram pontuais e inespecíficas”, explica Ana Estelita de Carvalho. Os cachorros manifestam uma versão assintomática da doença, dificultando o diagnóstico precoce.
“A pesquisa indica que é necessário uma análise profunda quanto às alterações clínicas e eletrocardiográficas, além de um maior período de estudo e observação dos animais diagnosticados com a Doença de Chagas”, explica Ana Estelita. Em áreas de doenças endêmicas, animais domésticos, como os cães, se tornam sentinelas da patologia.
“Para o controle do vetor, recomenda-se o uso de inseticidas domésticos nos domicílios e no habitat dos animais. Parte dos cães é contaminada ao caçar e ingerir o inseto infectado, logo esse hábito deve ser evitado com canis de alvenaria e telados. Os tutores devem evitar oferecer aos animais alimentos que podem ter sido contaminados. Pode-se também instituir o uso de coleiras repelentes, já bastante divulgadas no mercado”, instrui a pesquisadora.
“Todo animal doente deve ser levado ao médico veterinário. Sempre que houver suspeita da doença, deve ser feita uma investigação sobre o manejo e o ambiente em que vive o animal, assim como devem ser dadas as orientações e os esclarecimentos sobre profilaxia aos seus responsáveis”, conclui Ana de Carvalho.
Ed.150 - Agosto e Setembro de 2019
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