Pavulagem é alegria, emoção e tradição!
Estudantes de Museologia homenageiam patrimônio cultural belenense
Por Jéssica Camila Nascimento Silva, Especial para o Beira do Rio Foto Jéssica Camila
Estandartes, canoas e bandeiras coloridas lembram o Cordão do Peixe-Boi. Cavalinhos e um dos tradicionais “cabeções” representam o Arrastão do Boi Azul. Já os brinquedos de miriti trazem o clima de uma das maiores festas religiosas do Brasil: o Círio de Nazaré. O teto azul-celeste com nuvens e pássaros criam a sensação de movimento. Na sala de exposições do prédio anexo da Faculdade de Artes Visuais (FAV), no Campus Profissional da UFPA, há muita história. História que iniciou em 1987, com Ronaldo Silva, Júnior Soares e Rui Baldez. Juntos, formaram o mais famoso grupo musical regional paraense: o Arraial do Pavulagem.
Consagrado em 27 de junho de 2017 como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial de Belém, por unanimidade da Câmara Municipal, o Arraial acaba de completar trinta e dois anos. São mais de três décadas do trabalho de difusão e de fortalecimento da cultura brasileira praticada em nossa região. Com a #ExpoPavu “Lá vem, lá vem o arraial! Um patrimônio cheio de pavulagem!”, os estudantes da turma de 2016 de Museologia contam um pouco dessa história. De 7 de junho a 5 de julho de 2019, o público da Universidade conferiu uma programação com palestras, oficinas e exposição de peças dos cortejos regionais.
De acordo com Fábio Alexandre, do sétimo semestre de Museologia, foi a primeira vez que o tema foi abordado no curso. O trabalho se originou na disciplina Exposição Museológica e, segundo ele, “foi votado pela maioria da turma, por ser mais viável, pela quantidade de acervo e pelas possibilidades de patrocínio”.
Dos brincantes à comunidade científica
“Nós escolhemos o Arraial do Pavulagem por causa do âmbito cultural que ele possui”, afirmou Juliana Martins, da turma de 2016 de Museologia. Segundo ela, o trabalho, que é uma exposição curricular, tem um objetivo específico na Universidade. “Além de alcançar quem é brincante do Arraial do Pavulagem, a nossa intenção foi chegar ao público acadêmico, à comunidade científica e, assim, propagar esse patrimônio cultural”, explica Juliana.
A estudante falou, ainda, sobre a experiência de organizar o evento. “Com várias ações para serem desenvolvidas, a turma se dividiu em equipes com estratégias diferentes, desde a captação de recursos até o planejamento e as mídias”, lembra. Para Juliana Martins, o aspecto histórico-cultural da exposição foi fundamental, “o Arraial do Pavulagem tem mais de 30 anos, e a exposição trouxe essa memória afetiva”.
Arte e educação - Andreza Karoline, caloura de Artes Visuais e mediadora da exposição, essa oportunidade foi importante para que ela entendesse o envolvimento entre a arte e a rua. “Porque eles surgem nas ruas, são do povo, para o povo”, avalia.
“É encantador conhecer os projetos socioeducacionais, principalmente, os que envolvem crianças e adolescentes. Um deles é o Cordão do Galo, projeto de extensão que atende a crianças que estão em zonas de risco em Cachoeira do Arari, no Marajó. Nas oficinas, as crianças produzem materiais que saem nos cortejos. Elas ficam empolgadas o ano inteiro para participar desse evento que ocorre em janeiro”, conta a estudante.
Outro aspecto destacado por Andreza é o reaproveitamento de materiais. “Este ano, eles aproveitaram tudo. O galo de 2019 foi feito com material reciclado: garrafas PET, canos de PVC e tela de galinheiro. Tudo transformado em algo belo”, conta. “Entender um pouco dessa história é muito gratificante”, conclui Andreza.
ARRAIAL DO PAVULAGEM: ETIMOLOGIA
Arraial é o local em que se realizam as celebrações e as festas durante as festividades dos santos. Pavulagem é um neologismo originário de pavão, que significa bonito e pomposo. Na linguagem popular paraense, representa a pessoa “que gosta de aparecer”.
O INSTITUTO ARRAIAL DO PAVULAGEM
Localizado no bairro Campina, em Belém, o Instituto dedica-se à pesquisa, à produção e à valorização da cultura popular feita na Amazônia. Por meio de linguagens, ritmos e elementos simbólicos, o Arraial busca fortalecer a identidade cultural paraense e oferecer ao público um trabalho criativo e original.
O instituto também realiza atividades socioculturais direcionadas à comunidade, como os cortejos Cordão do Peixe-Boi, Arrastão do Pavulagem ou Arrastão do Boi Azul, Arrastão do Círio ou Arrastão da Cobra Grande e a Roda de boi, encontro para a diversão e mobilização de todas as pessoas interessadas em conhecer e participar dos trabalhos do Arraial do Pavulagem.
Ed.150 - Agosto e Setembro de 2019
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