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Custos e benefícios no combate ao HIV

Publicado: Quinta, 05 de Dezembro de 2019, 19h37 | Última atualização em Quinta, 05 de Dezembro de 2019, 20h25 | Acessos: 3844

Estudo analisa impactos do tratamento antirretroviral 

No Pará, 987 novos casos de AIDS foram notificados no primeiro semestre de 2018.
imagem sem descrição.

Por Aila Beatriz Inete Foto Tânia Rêgo/Agência Brasil

A AIDS, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, é uma doença crônica causada pelo vírus da imunodeficiência humana, o HIV. A doença danifica o sistema imunológico e impossibilita o organismo de lutar contra infecções. Ainda que não exista a cura, atualmente existem tratamentos que possibilitam o aumento da expectativa de vida das pessoas soropositivas, que é o tratamento antirretroviral (TARV). A intervenção tem como objetivo prevenir a progressão da doença, melhorar a qualidade de vida do paciente e reduzir o aparecimento das infecções oportunistas. Entretanto ela possui alguns efeitos colaterais que podem ser prejudiciais, como o aumento do triglicerídeo e do colesterol. Em sua pesquisa de doutorado, a nutricionista Ranilda Gama de Souza analisou os efeitos da terapia no quadro nutricional desses pacientes.

O Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a distribuir gratuitamente os antirretrovirais para seus portadores de HIV. O relatório de 2018 do Ministério da Saúde mostrou que da década de 1980, quando o primeiro caso de AIDS foi identificado, a junho de 2018, 982.129 casos de AIDS foram detectados no país.

No mesmo período, foram totalizadas 59.129 notificações de AIDS na Região Norte, 26 mil foram identificadas no Pará, com 987 novos casos no primeiro semestre de 2018. De acordo com o relatório, o Pará registrou 8 mil óbitos pela doença, no período de 1980 a 2017, correspondendo a 52,8 % do total registrado nesse intervalo de tempo para a Região Norte. Segundo a pesquisadora Ranilda Gama, a tese Avaliação do perfil nutricional e o impacto da terapia antirretroviral em uma coorte infectada pelo vírus da Imunodeficiência Humana 1 (Hiv-1), em Belém-Pará deu continuidade à pesquisa de mestrado realizada em 2010, quando analisou o perfil nutricional das pessoas vivendo com HIV e sua correlação com a TARV.

“No mestrado, o resultado obtido foi um grande número de pessoas com desnutrição, por isso quis investigar o que tinha acontecido com essas pessoas no decorrer do tempo, mas não encontrei os mesmos participantes. Então, procuramos saber o que ocorria com as pessoas que estavam sendo infectadas e fazendo o tratamento”, conta a pesquisadora. O objetivo do estudo era estabelecer uma coorte de pessoas vivendo com HIV, virgens de tratamento, e acompanhar as mudanças ocasionadas pelo efeito da TARV, nas variáveis nutricionais e nos marcadores bioquímicos, imunológicos e virológicos.

Grupo controle foi formado por 113 pessoas 

A pesquisa, orientada pelo professor Ricardo Ishak e apresentada no Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários (PPGBA/ICB), também descreveu as características demográficas, sociais, econômicas e comportamentais dos pacientes. “O objetivo principal era saber qual o impacto desse tratamento no organismo daquelas pessoas. Várias pesquisas mostravam que a resposta à infecção era boa, mas havia consequências, como dificuldades na questão bioquímica, gerando outros problemas para o resto da vida”, explica Ranilda Gama.

Foi feito um estudo observacional, entre junho de 2016 e junho de 2018, com um grupo de pessoas atendidas no Serviço de Assistência Especializada (SAE) da Prefeitura Municipal de Belém. “Os participantes formaram, inicialmente, um grupo de 110 pessoas vivendo com HIV, com idade entre 18 e 59 anos. Foi realizada uma avaliação periódica, a cada dez meses, de variáveis epidemiológicas (demográficas, sociais e econômicas), definição de marcadores laboratoriais (lipidograma, hemograma completo e ferritina), imunológicos, virais (quantificação da carga viral) e clínica nutricional (exame físico, antropométrico e consumo alimentar)”, explica Ranilda Gama.

As avaliações das pessoas infectadas foram comparadas com as de um grupo controle. Esse grupo controle era formado por 113 pessoas da comunidade universitária da UFPA que aceitaram participar da pesquisa, com sorologia negativa para HIV-1 (prevalência global). Os participantes do grupo controle foram pareados ao grupo pesquisado por sexo e idade. Eles foram submetidos a exames físico e antropométrico uma única vez, responderam ao questionário e foram encaminhados para coleta de material de sangue para exames bioquímicos.

Terapia pode aumentar colesterol e triglicerídeos

A pesquisa verificou que o estado nutricional dos pacientes com HIV é normal para os índices de massa corporal, circunferência braquial e circunferência muscular dos braços. Entretanto a análise da prega cutânea tricipal (que são as dobras medidas para avaliação da gordura corporal) e da bioimpedância (exame que mede a composição corporal) mostra predomínio de desnutrição. Inicialmente, a carga viral (log10) do grupo pesquisado foi maior que 3, e, no final da avaliação, a maioria tinha 1,61(log10), significando uma redução na carga viral, ou seja, melhora na resposta imunológica.

Os resultados laboratoriais para colesterol total, LDL- colesterol (LDL-c), que é o colesterol ‘ruim’, triglicerídeos e ferritina estavam dentro dos parâmetros de normalidade nas três avaliações, a exceção foi para o HDL-colesterol (HDL-c), que é o colesterol ‘bom’, que estava abaixo. “O uso da TARV promoveu um aumento significativo dos níveis séricos dos marcadores laboratoriais entre o período sem o medicamento e após 12 e 24 meses de tratamento, mostrando um crescimento gradativo ao longo do tempo de uso de TARV”, explica Ranilda Gama.

A comparação entre o grupo de pessoas vivendo com HIV (PVHIV) e o grupo de controle mostrou que as PVHIV, inicialmente, encontravam-se com os níveis séricos das variáveis lipídicas inferiores aos do grupo controle. Após dois anos de TARV, esses níveis ultrapassaram os do grupo controle, exceto o HDL-c, enquanto os níveis de ferritina diminuíram. “Apesar de a TARV possibilitar redução da carga viral e melhorar o estado imunológico das pessoas vivendo com HIV, a terapia pode promover aumento dos marcadores lipídicos, possibilitando a elevação de colesterol e/ou de triglicerídeos no plasma, e a baixa concentração de HDL-c. Essas pessoas necessitam de avaliação periódica para que possíveis alterações sejam detectadas precocemente”, afirma a nutricionista. Para a pesquisadora, é de extrema importância que a doença não seja menosprezada, pois, apesar dos avanços no tratamento, ainda estamos falando de uma doença sem cura.

Ed.152 - Dezembro e Janeiro de 2019 / 2020

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