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Opinião

Publicado: Quarta, 30 de Setembro de 2020, 20h54 | Última atualização em Quarta, 30 de Setembro de 2020, 21h20 | Acessos: 1461

Preservação do acervo artístico e cultural de Ray Cardoso (*)

Por Célia Regina Ferreira Nogueira Foto Acervo Pessoal

“A cultura representa a identidade de um povo, a memória histórica de uma sociedade”, e, para que essa identidade e memória sejam preservadas, é necessário conservar registros de documentos, fotos, objetos e outros, que passam a representar rica fonte de informação e instrumento de preservação da memória de um povo na construção de sua história e identidade. (ATAÍDES; MACHADO; SOUZA, 1997, p. 32)

Nesses termos, minha intenção de pesquisa referente ao Trabalho de Conclusão de Curso intitulado Uma breve história de vida e obra de Ray Cardoso teve como objetivo registrar os momentos e as obras mais relevantes da vida de Ray Cardoso e, ao mesmo tempo, contribuir com a preservação histórica e a conservação da memória da cultura abaetetubense, haja vista que, apesar de seis décadas de contribuições para a cultura local na construção de um acervo artístico de obras esculpidas em miriti, concreto e em madeira de lei, não se encontra nenhum tipo de registro referente ao trabalho do artista, o que pode ser considerada uma grave lacuna.

Raimundo Rodrigues Cardoso, carinhosamente conhecido por Ray Cardoso, artista/escultor, militante ambiental, nasceu em 6 de agosto de 1949, às margens do igarapé Ipixuna (Abaetetuba/PA). Filho de um casal humilde de colonos, Ray Cardoso era orgulhoso de suas origens e descendência índigena/portuguesa/negra, de imigrantes nordestinos que se refugiaram da seca na região de Abaetetuba, no final do século XIX, formando, assim, a verdadeira família de caboclos amazônicos.

Suas obras apresentam um grande e bem definido apelo social, sempre em prol de retratar as relações do dia a dia do nativo da região, com relevante riqueza em detalhes dos mais variados conceitos, seja de senso comum, seja de senso estrito/técnico, histórico, antropológico, em cujas etapas de criação das peças, percebe-se que há um volume grandioso de relações entre a humanidade do artista e a sua cultura local, as quais são mediadas pelas relações sociais.

Entre elas, o “Plantador de cana verde” -1990, que estabelece uma relação com o seu povo, com a natureza, além de despertar memórias e ter uma analogia com a história de vida das pessoas. “O mito da Amazônia – “Matinta Pereira” - 2007; “Homenagem aos oleiros de Abaetetuba”-2010; “Ciclo da Cana”- 2010; “Piruliteiro”-2014; “Carregador de Mandioca”-2017; “Bota”-2019; “São Lourenço”-2019, segundo o artista, a maioria de suas obras é uma chamada de atenção para a preservação da Amazônia e para os cuidados com ela.

Podemos perceber, durante esse processo de produção, observações e acompanhamento da vida e da obra de Ray Cardoso, uma riqueza que perpassa por vários temas em suas esculturas, despertando olhares, críticas e questionamentos. Da mesma maneira, viu-se que muitas obras trazem uma representação artística local forte e original de um tempo/povo, com um passado quase esquecido e que ele consegue resgatar.

Assim sendo, torna-se perceptível que as obras do artista abaetetubense Ray Cardoso possuem características que denotam semelhantes representações, as quais são embasadas, em sua maioria, no meio ambiente e na cultura do povo abaetetubense, sendo essas representações artísticas uma forma de expressão pela qual a cultura e a sociedade são espelhadas nela e por ela.

(*) este artigo é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso Uma breve história de vida e obra de Ray Cardoso, apresentado ao Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) da Faculdade de Artes Visuais (ICA/UFPA), Campus Abaetetuba, sob orientação da professora Márcia de Nazaré Jares Alves Chaves.

Célia Regina Ferreira Nogueira – licenciada em Biologia e em Artes Visuais. E-mail: crfnogueira@yahoo.com.br 

Ed.156 - Set/Out/Nov de 2020

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