“A gente não quer só chibé”
De Bragança, podcast promove a produção literária da Amazônia
Por Matheus Luz Foto Alexandre de Moraes
A literatura amazônica é um rio de palavras e histórias que não se esgotam. Acompanhar esse fluxo e proporcionar maior visibilidade para a produção literária regional é o objetivo do Projeto de Extensão Podcast de Literatura da Amazônia Paraense: a gente não quer só chibé, uma iniciativa que visa utilizar a tecnologia em favor da divulgação dos autores, dos poetas e dos pesquisadores da Amazônia paraense.
Os podcasts são produções que podem lembrar programas de rádio, no entanto ampliam ainda mais as possibilidades do formato, sobretudo relacionado ao tempo. Sem ter a necessidade de ser ouvido em um dia ou em horário específico, os podcasts ficam disponíveis na internet, principalmente em plataformas de streaming de conteúdo musical. Os programas têm a liberdade de abordar diferentes assuntos, de várias formas, utilizando a linguagem que preferirem.
Aproveitar esses recursos tecnológicos e a amplitude de possibilidades da internet para divulgar a literatura da Amazônia foi ideia de Abílio Pacheco, professor de Letras no Campus Bragança da Universidade Federal do Pará (UFPA). O idealizador do projeto de extensão explica que a iniciativa surgiu de suas experiências em projetos pessoais de divulgação literária, como gravações de poemas em áudio, voluntariado na direção de programa de rádio, produção de fanzines literários e outras atividades.
Embalado pelo fundo musical do compositor bragantino Toni Soares, cada episódio apresenta um pouco da vida e da obra de autores paraenses. A conversa aborda desde suas inspirações e opiniões até suas perspectivas sobre o futuro do cenário literário local. Além dos autores, são entrevistados pesquisadores dialogando principalmente sobre a importância de se valorizar a literatura amazônica. A proposta do programa é entrevistar um(a) autor(a) e um(a) pesquisador(a) de sua obra, mas, em razão das incertezas geradas pela pandemia, a estrutura pode sofrer alterações.
Projeto reúne literatura, pesquisa e tecnologia
Os episódios são apresentados por Sharinna Maia, bolsista do projeto e responsável por realizar as entrevistas e editar o programa. A estudante do curso de Letras (Campus Bragança/UFPA) conta que a área da comunicação sempre chamou sua atenção e poder trabalhar com o podcast tem sido uma oportunidade única. Para a bolsista, a iniciativa tem grande relevância por se tratar de um projeto inovador que une literatura, pesquisa e tecnologia.
O projeto de extensão também busca preparar os futuros docentes para o trabalho com um gênero textual discursivo-midiático, como o formato podcast. Além disso, é importante lembrar que a iniciativa surge contemplando um estudo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o qual orienta que estudantes da educação básica devem ter contato com as tecnologias digitais.
“O podcast é importante não só por conta dos objetivos elencados, mas também por fazer a literatura da região ir além das fronteiras. Também é importante por ser uma produção que faz parte do ‘universo da cultura digital’, do qual fazem parte os estudantes jovens e jovens adultos”, explica Abílio Pacheco.
O Podcast de Literatura da Amazônia Paraense é uma plataforma que ajuda a levar a obra de autores paraenses para novos públicos. A bolsista do projeto, Sharinna Maia, ressalta que as contribuições vão para além da Universidade. “O programa leva informações tanto para a academia quanto para a sociedade em geral. É acessível, pois está disponível em plataformas digitais de streaming e nas redes sociais, por meio das quais pode ser compartilhado. Este projeto também tem ajudado a divulgar o trabalho de muitos escritores e escritoras não tão conhecidos em nossa região”, afirma a estudante.
Espaço para opinião e obra de quem está começando
Um dos entrevistados no podcast foi o poeta Diego Wayne, autor do livro Coração de Unicórnio, uma coletânea de poesias LGBT+ e sua primeira obra publicada. Para Diego, o Pará possui uma constelação de talentos que vem produzindo excelentes conteúdos. “Como autor, espero que haja cada vez mais projetos como este, abrindo espaço para jovens escritores que estão engatinhando na literatura, assim como eu. Coração de Unicórnio é meu primeiro livro e estou amando ter esse espaço para expor minha opinião e minha arte”, afirma.
A literatura engloba diversidades que vão além da variedade de gêneros e estilos literários. A escrita também expressa a individualidade das vivências dos autores e dialoga com a experiência única de cada leitor. Pensando nas relações sociais que refletem na produção literária, o professor Abílio Pacheco ressalta o seu desejo por ampliar as temáticas e as discussões apresentadas no podcast.
“Pretendemos fazer entrevistas com autores/as que contemplem a multiplicidade de escritas nas microrregiões do estado, bem como a representatividade das muitas diversidades”, explica o idealizador do projeto.
O professor Abílio Pacheco espera que sejam produzidos muitos episódios do podcast e que eles se tornem referência para a pesquisa em literatura paraense. A bolsista Sharinna Maia também reitera a sua vontade de ampliar os horizontes do programa: “Penso na importância da divulgação e ampliação do projeto por meio de parcerias tanto no universo acadêmico como também nas escolas e comunidades, para alcançarmos um público ainda maior”, afirma a estudante.
Beira do Rio edição 157
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