Burnout é tema de pesquisa na UFPA
Gestores precisam estar atentos ao clima organizacional
Por Edmê Gomes Foto pexels-yasin-aydın
Até bem pouco tempo considerada um problema de saúde mental, a Síndrome de Burnout recebeu oficialmente a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença ocupacional. Na prática, a alteração significa que a síndrome passou a ser associada a problemas específicos do contexto laboral, garantindo os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários assegurados para outras doenças laborais.
“Dessa forma, as organizações também passam a ser responsáveis por promover ações para prevenir a síndrome, o que irá contribuir para a saúde do trabalhador e seu desempenho profissional”, destaca Josemare de Nazaré Sousa da Silva, autora da dissertação Burnout e clima organizacional: intervenções para redução de riscos de incidência nas IFES.
O reconhecimento da síndrome é importante não apenas pelo contexto de relevância da pauta da saúde mental na contemporaneidade, marcada pela constante pressão e inúmeras responsabilidades sobre os trabalhadores, mas também pelo aumento da incidência de casos da doença entre os brasileiros.
Segundo dados de um levantamento realizado pela International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), associação sem fins lucrativos voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento de estresse no mundo, 72% da população economicamente ativa no Brasil sofre com problemas relacionados ao estresse, sendo que, destes, 32% têm características de burnout.
Diagnóstico – De ordem psicossocial, o distúrbio apresenta, segundo o Ministério da Saúde, sintomas como exaustão extrema, estresse contínuo e esgotamento físico e mental resultantes de situações de trabalho desgastante. “No entanto apenas a presença dos sintomas não indica que a pessoa esteja sofrendo de burnout, pois o diagnóstico não é tão simples e requer acompanhamento psicológico e análise do ambiente de trabalho”, lembra Josemare.
Segundo a pesquisadora, para indicar a presença de burnout, o trabalhador deve apresentar três características principais: “a primeira é exaustão física e mental, que, mesmo com férias ou licença, continua no retorno ao trabalho; a segunda é o “cinismo” ou sentimentos negativos em relação ao trabalho e a terceira é o sentimento de baixa eficácia profissional”.
Josemare Sousa da Silva, que atua como servidora técnico-administrativa em educação na Universidade Federal do Pará (UFPA), analisou quais dimensões do clima organizacional contribuem para a incidência de burnout segundo a percepção dos servidores técnico-administrativos que atuam nas secretarias dos cursos de graduação da UFPA, em Belém. A ideia foi, a partir dos resultados encontrados, propor intervenções para minimizar e prevenir os aspectos favoráveis ao problema.
“Comecei a pesquisar o assunto quando participei de uma pesquisa de clima organizacional realizada em 2015, na UFPA, com os servidores. No entanto o interesse pelo tema burnout surgiu quando analisei relatórios de gestão de anos anteriores em que foram registrados muitos afastamentos por problemas de saúde, principalmente de técnicos administrativos em educação (TAEs)”, justifica Josemare.
Carga excessiva de trabalho é fator de risco
Para a pesquisa, a servidora optou por realizar um estudo de caso de abordagem quali-quantitativa aplicando questionário com perguntas objetivas e discursivas. Os dados foram analisados com o auxílio da estatística descritiva e da análise de conteúdo. “A pesquisa foi autorizada pela gestão superior e seguiu os preceitos éticos necessários”, destaca Josemare Sousa da Silva.
Os questionários buscaram coletar dados relativos ao clima organizacional, às causas de estresse no trabalho e às formas de minimizar o problema. Os resultados apontam para a existência de seis dimensões de risco para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. “Relações interpessoais, reconhecimento e carga excessiva de trabalho são as principais”, detalha a pesquisadora.
Josemare também aponta as principais estratégias utilizadas pelos TAEs para evitar ou lidar com o estresse. Segundo os dados levantados, a prática de atividades físicas e o suporte de colegas de trabalho nos momentos de tensão são exemplos positivos. “No geral, a análise mostrou que as relações interpessoais são um fator crucial para o desenvolvimento ou a prevenção de burnout, depende de como elas são construídas e de como afetam o clima organizacional”, revela.
Os resultados indicam a necessidade de ampliação de estudos sobre o tema no âmbito da UFPA e de outras Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), considerando as particularidades ocupacionais. Para a servidora, é necessário compreender que as medidas preventivas devem englobar mais do que ações isoladas, mas também estratégias que envolvam os servidores expostos a situações estressantes e melhorem o clima organizacional.
Uma cópia do relatório final, contendo os principais resultados da pesquisa, foi enviada à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep). “Entre as principais intervenções sugeridas, estavam: utilização mais efetiva de ferramentas para sistematizar as demandas e diminuir o contato com o público com o auxílio dos sistemas SAGITTA (Sistema de atendimento ao usuário da UFPA) e SIGAA (Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas), pesquisas periódicas de clima e criação de um Plantão Psicossocial para servidores”, enumera a servidora.
Pesquisa – A dissertação Burnout e clima organizacional: intervenções para redução de riscos de incidência nas IFES foi defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos e contou com a orientação da professora Eliana Maria de Souza Franco Teixeira. A pesquisadora Josemare tem Graduação em Letras- habilitação em Inglês e Especialização em Docência no Ensino Superior.
Parte da pesquisa foi publicada em um dos capítulos do livro Gestão Pública e Desenvolvimento na Amazônia Paraense, produzido pela editora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA). Dois artigos contendo os principais resultados estão sendo produzidos para publicação em revistas científicas. A expectativa da autora é dar continuidade à investigação, ampliando a pesquisa para a categoria dos docentes, com foco no seu bem-estar.
Fique atento aos sinais: cansaço excessivo, físico e mental; dor de cabeça frequente; alterações no apetite; insônia; dificuldades de concentração; sentimentos de fracasso e insegurança; negatividade constante; sentimentos de derrota e desesperança; sentimentos de incompetência; alterações repentinas de humor; isolamento; fadiga; pressão alta; dores musculares; problemas gastrointestinais e alteração nos batimentos cardíacos.
Previna-se
Defina pequenos objetivos na vida profissional e pessoal.
Aprimore a sua assertividade no trabalho.
Participe de atividades de lazer com amigos e familiares.
Tenha hobbies e faça atividades que "fujam" à rotina.
Evite o contato com pessoas "negativas", especialmente aquelas que reclamam do trabalho ou dos outros.
Faça pequenas pausas no trabalho.
Converse com alguém de confiança sobre o que está sentindo e procure um profissional, quando necessário.
Faça atividades físicas regulares e cuide da alimentação.
Evite consumo de bebidas alcoólicas, tabaco ou outras drogas.
Não se automedique.
Fonte Ministério da Saúde.
Beira do Rio edição 165
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