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Um barco de fibra de juta e miriti

Publicado: Segunda, 28 de Maio de 2018, 18h15 | Última atualização em Terça, 29 de Maio de 2018, 15h04 | Acessos: 6520

Embarcação utiliza recursos renováveis e atende aos padrões comerciais

Fibra da juta, miriti, garrafas PET foram utilizados no projeto do engenheiro Vitor Hugo Chaves.
imagem sem descrição.

Por Renan Monteiro Foto Alexandre de Moraes

Considerando os recursos renováveis disponíveis e o uso de embarcações na região amazônica, o engenheiro industrial Vitor Hugo Chaves defendeu a dissertação Construção de embarcações de pequeno porte com aproveitamento de recursos naturais renováveis junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial (PPGI/ITEC), com orientação do professor Roberto Tetsuo Fujiyama.

A dissertação apresenta as etapas da construção de uma embarcação com madeira compensada naval, poliéster tereftálico, fibras de juta e miriti, sendo estes dois últimos fontes renováveis, abundantes na natureza e de baixo custo. “Atualmente, a construção naval, principalmente a ribeirinha, é mais voltada para a madeira ou para o alumínio. Nós buscamos apresentar uma nova perspectiva”, justifica Vitor Hugo.

Para o delineamento, a montagem do casco e a determinação das curvas de estabilidade da embarcação, foram utilizados, respectivamente, os programas computacionais Rhinoceros 5.0 e Hecsalv Ship Project 7.8.0.9. A embarcação tem dois metros de comprimento, 70 cm de largura e um pontal (altura) em torno de 60 centímetros, além de suportar cerca de 300 quilos de carga total.

“O barco é um protótipo para o transporte de passageiros. Primeiramente, procuramos definir o melhor formato da embarcação para a região, fazendo o cálculo de estabilidade com a carga. Em seguida, fizemos a modelagem da embarcação em programas especializados, a caracterização dos reforços transversais – as chamadas ‘cavernas’ –  e, depois, trabalhamos com as madeiras de miriti como chapeamento do fundo e laterais”, descreve o engenheiro.

Não houve dificuldade para obter os materiais para a construção do barco. A juta é uma planta originária da Índia e cultivada no Brasil desde o século passado. A fibra de juta é chamada comercialmente de “fibra mole” e é empregada na confecção de telas e tecidos de aniagem, cordas, barbantes, tapetes, sacarias etc.

O miriti é uma planta típica da Amazônia e do cerrado. Sua madeira é muito leve e extremamente resistente nos pontos longitudinais. Já o compensado naval foi adquirido no comércio local, em folhas de 15mm de espessura para a confecção das cavernas.  O poliéster tereftálico é um produto retirado do petróleo e um dos componentes principais utilizados nas embarcações.

Uso de fibras vegetais garante sustentabilidade  

O compensado naval e a madeira de miriti formam o corpo da embarcação. Para efetuar a união das peças e enrijecê-las, foram utilizados a fibra de juta e o poliéster, dando o acabamento. “Fomos montando a embarcação conforme os ditames da construção naval, tal como são feitas as embarcações com fibras de vidro”, relata Vitor Hugo Chaves.

Para a construção de um barco, pode-se optar por uma grande quantidade de materiais, e a fibra de vidro é um dos mais populares, pois barcos construídos com esse material têm menor depreciação. No entanto a fibra de vidro causa grande impacto no meio ambiente. As fibras de juta e de miriti, utilizadas na embarcação criada para a pesquisa, são classificadas como fibras vegetais. São fibras de baixo custo, biodegradáveis e podem ser recicladas sem impacto para a natureza.

Outro aspecto da embarcação é a não utilização de metal. “A proa da embarcação, que é o local em que ocorre o maior impacto na água, foi feita com talas de miriti. A princípio, utilizamos pregos nas tábuas de miriti, depois, usamos o próprio poliéster como adesivo, ou seja, nada de metal”, acrescenta o engenheiro.

A embarcação tem dois cascos, um externo e outro interno. Entre eles, existe um espaço em que foram inseridas garrafas PET de 500ml. Foram utilizadas 80 garrafas de água, tanto no piso quanto na lateral. “É um ineditismo na pesquisa. Caso haja alguma falha ou ruptura no casco externo por colisão, por exemplo, a embarcação não afundará. O espaço em que estão as garrafas vai  encher, pois serve como boia. As garrafas aumentam a reserva de flutuabilidade”, garante o pesquisador.

O método de fabricação proposto para a embarcação mostrou-se viável e atendeu aos padrões comerciais. Vitor Hugo garante que é possível converter o protótipo para embarcações maiores, mantendo o baixo custo.

Ed.143 - Junho e Julho de 2018

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Construção de embarcações de pequeno porte com aproveitamento de recursos naturais renováveis

Autor: Vitor Hugo Chaves

Orientador: Roberto Tetsuo Fujiyama.

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial (PPGI/ITEC)

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