Lixo zero na costa paraense
Projeto promove ações de educação ambiental
Por Nicole França Foto Acervo da Pesquisa
Cerca de 70% do território do nosso planeta é constituído de água, e não é uma novidade que a água é um importante recurso para a manutenção da vida. Mas, no decorrer do tempo, esse recurso vem sendo cada vez mais prejudicado pela poluição. Segundo um estudo divulgado pelo Departamento de Ciência do governo do Reino Unido, até o ano de 2025 os oceanos do planeta estarão três vezes mais poluídos com plástico. Entretanto, o Projeto Lixo Zero: do Rio ao Oceano, vinculado à Faculdade de Oceanografia da UFPA, vem como uma alternativa para a conscientização sobre a preservação desse importante recurso.
“O projeto tem como principal objetivo sensibilizar a comunidade sobre a importância de se defender os ambientes costeiros e marinhos, como rios, estuários e oceanos. Primeiramente, buscamos sensibilizar a comunidade da UFPA, os estudantes de Oceanografia, que, muitas vezes, não têm noção do impacto global desse problema. Em seguida, com os discentes sensibilizados, levamos o conhecimento produzido na disciplina Educação Ambiental para as comunidades da zona costeira paraense, onde estão municípios à margem de rios e de praias”, explica Sury Monteiro, coordenadora do projeto.
A iniciativa busca levar para a comunidade a educação ambiental, por meio de oficinas, jogos, exposições e mutirões de limpeza. Até o momento, o projeto já realizou ações em Salinas, Cuiarana, Ilha de Cotijuba e Belém. Segundo Sury Monteiro, a iniciativa possui três pilares: o primeiro é constituído por ações pequenas, como a importância de fechar a torneira enquanto se escova os dentes e não jogar lixo na rua; o segundo e o terceiro estão relacionados, pois tratam da reutilização de resíduos e da rentabilidade econômica que isso pode gerar.
O projeto de extensão é destinado, principalmente, para crianças, pois elas são vistas como importantes atores de transformação e multiplicação de conhecimento. Apesar disso, também atuamos com jovens em situação de vulnerabilidade. “Nosso trabalho tem o intuito de mostrar que a preservação, além de beneficiar o meio ambiente, também pode trazer retorno financeiro. Resíduos como o plástico, um dos nossos principais problemas ambientais, podem ser transformados em fonte de renda”, expõe Sury Monteiro.
“Buscamos dar essa visão local e mostrar o impacto global”
A ideia para o desenvolvimento do Lixo-zero surgiu durante a disciplina Educação Ambiental aplicada à Oceanografia. “Na disciplina, propus aos estudantes o desafio de aplicar a educação ambiental estando aqui, em Belém, muito distante dos oceanos. Acabamos desenvolvendo ações para levar esse conhecimento à comunidade, numa troca corpo a corpo. Submetemos a proposta à Proex e demos continuidade ao projeto”, afirma Sury Monteiro.
Atualmente, o projeto atua com duas frentes. “Na primeira vertente, trabalhamos especificamente com escolas localizadas na bacia hidrográfica do Tucunduba para mostrar como esse lixo chega às ilhas de lixo que estão nos oceanos Atlântico ou Pacífico. Buscamos dar essa visão local e mostrar que isso tem um impacto global”, relata a coordenadora.
A segunda vertente do projeto foca na formação do cidadão cientista. Para isso, os bolsistas do projeto visitam os municípios da zona costeira paraense e realizam palestras sobre os impactos que o lixo causa em nossa vida e na vida dos animais aquáticos. “Após esse processo, os estudantes pediam para que as pessoas fotografassem o lixo que elas encontravam em qualquer lugar da praia ou próximo a locais que poderiam ir ao oceano. O material produzido pela comunidade foi enviado para os bolsistas que produziram um mapa de informações de resíduos sólidos de várias localidades em Salinas, em São Caetano de Odivelas, em Cotijuba, entre outros”, expõe Sury Monteiro.
Além disso, o Projeto Lixo-zero: do rio ao oceano realiza, anualmente, no dia 8 de junho, (Dia Mundial dos Oceanos), um mutirão de limpeza em praias paraenses. “Este ano, realizamos um mutirão na praia do Chapéu-Virado, em Mosqueiro, e tivemos a participação de mais de 70 pessoas. Durante essa ação, limpamos a praia, fizemos exposições e realizamos toda a troca de conhecimento com a população local”, afirma a coordenadora.
Para Sury Monteiro, esse tipo de ação serve para que a cidade tenha um exemplo que pode ser replicado a qualquer momento. “Este ano, infelizmente, não conseguimos ir a Salinas. Mas a comunidade se mobilizou e realizou ações de limpeza. Queremos mostrar para as comunidades que qualquer um pode fazer, mesmo sem uma grande estrutura, e alcançar bons resultados”, conclui.
Ed.151 - Outubro e Novembro de 2019
Redes Sociais