Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Página inicial > 2019 > 152 - dezembro e janeiro > Pelos caminhos da cidade
Início do conteúdo da página

Pelos caminhos da cidade

Publicado: Quinta, 05 de Dezembro de 2019, 19h26 | Última atualização em Quinta, 05 de Dezembro de 2019, 20h17 | Acessos: 3711

Videoclipes retratam paisagens e personagens de Belém

imagem sem descrição.

Por Nicole França Foto Mácio Ferreira

A Amazônia e Belém, quando vistas por pessoas de outras localidades, costumam ter sua imagem relacionada a uma visão simplista e exótica, muitas vezes focada somente na fauna e na flora. Apesar disso, a região possui realidades diversificadas que não são exploradas ou conhecidas. Mas, tendo consciência de que as expressões artísticas são uma importante ferramenta para se evidenciar as mais variadas percepções e vivências da região, Victória Ester Tavares da Costa desenvolveu a dissertação Pelos caminhos da cidade: experiência e percepção de paisagens em videoclipes na Amazônia contemporânea.

Apresentada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia e orientada pelo professor Fabiano de Souza Gontijo, a pesquisa analisou seis videoclipes musicais filmados em ruas de Belém, sendo eles: “No Meio do Pitiú”, de Dona Onete; “Velocidade do Eletro”, da Gang do Eletro; “Oswald Canibal”, de Henry Burnett; “Vela”, da Madame Saatan; “Live In Jurunas”, de Gaby Amarantos; e “Devorados”, da Madame Saatan. Além da análise dos videoclipes, a pesquisadora também realizou entrevistas com pelo menos duas pessoas de cada local, presentes nos videoclipes. Nessas entrevistas, Victória Costa pôde dialogar sobre o cotidiano, as experiências e as imagens criadas desses espaços.

“Com a pesquisa, eu procurei entender a forma como nós, amazônidas e belenenses, nos representamos no audiovisual, tanto para nós mesmos quanto para quem é de fora, para o Brasil e para o mundo, dependendo do alcance de cada um desses produtos audiovisuais”, explica Victória Costa.

Segundo a pesquisadora, a escolha da análise de videoclipes se deu pelo volume da produção atual. Apesar de Belém ainda não ter um mercado audiovisual estabelecido, muitos músicos locais têm procurado esse recurso. “Isso se dá porque o videoclipe se mostra como um produto cultural que se consegue criar e divulgar com maior facilidade”, afirma.

A floresta e o “exótico” representam a região

Para o desenvolvimento da dissertação, a pesquisadora entrou em contato com os diretores e os músicos de cada videoclipe e foi até os locais retratados nas produções. “Nesses lugares, eu observei o entorno, o movimento e, a partir disso, eu cheguei aos personagens, às pessoas que eram mais frequentes: passantes, vendedores, pessoas que moram nesses locais e foram filmadas. Já o contato com os diretores e os músicos se deu, principalmente, por meio de e-mails e redes sociais”, declara Victória Costa.

Com as entrevistas, a pesquisadora constatou que grande parte dos seus interlocutores levantou a questão sobre o desconhecimento sobre Belém e sobre a Amazônia. “Esse foi um ponto defendido, principalmente, pelas diretoras Priscila Brasil e Carol Matos. Para elas, o audiovisual vem como meio de tornar conhecidos outros lados da nossa cidade, porque não existe só a Belém da floresta e dos rios, mas essa Belém urbana, que, às vezes, é desconhecida pelas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, que a representam de uma forma distante, ainda muito superficial e exótica. Ao conhecer a nossa vizinhança, conseguimos falar melhor sobre a pluralidade da cidade”, avalia a pesquisadora.

Para a escolha dos videoclipes, Victória Costa determinou que todos deveriam ter sido filmados em Belém, com músicos, bandas e diretores da cidade. Tal recorte específico se deu para entender a forma como o próprio paraense se enxerga. Ao final, foram selecionados seis videoclipes que demonstram diferentes aspectos da cidade.

O primeiro clipe analisado foi “Vela”, da banda Madame Saatan, dirigido por Priscila Brasil e filmado durante a trasladação e a procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Segundo Victória Costa, “Vela” relaciona o profano e o religioso convivendo juntos, durante a quadra nazarena. “O clipe mostra a vela e o fogo como algo sagrado e também profano pelas ruas da cidade. Se vê uma Belém com aquele ‘agito’ do Círio, com gente de todos os tipos”, explica.

Também da banda Madame Saatan e dirigido por Priscila Brasil, o clipe “Devorados” retrata a realidade dos moradores da Vila da Barca, sendo as crianças os personagens principais. O clipe mostra, principalmente, o desenvolvimento urbano desigual do lugar. “Há 10 anos, época em que o clipe foi gravado, a urbanização estava chegando lá, então ainda havia muitas casas de madeira e palafitas. O clipe apresenta esse cotidiano precário, com tomadas da polícia entrando no local. Eles mostram esse lado mais pesado da periferia da cidade”, declara Victória Costa.

Jurunas, Comércio, Cidade Velha e Campina

Priscila Brasil também foi responsável pela direção do clipe “Live in Jurunas”, de Gaby Amarantos. “‘Live in Jurunas’ é originalmente um show inteiro editado em videoclipes com cunho documental, retratando não só o show da cantora em frente à sua casa mas também um pouco do cotidiano do Jurunas. Uma questão levantada pelos interlocutores foi a sociabilidade característica do bairro. Diferente do centro da cidade, no Jurunas as pessoas se conhecem e se cumprimentam. Não é cada um na sua casa, cada um no seu apartamento. Essa característica ficou evidente no clipe da Gaby Amarantos”, confirma Victória Costa.

Já em “Velocidade do Eletro”, da Gang do Eletro, dirigido por Carol Matos e Bruno Régis, a paisagem retratada é do comércio. No clipe, o grupo musical anda pelas ruas do centro comercial de Belém ao mesmo tempo em que canta e dança a sua música, contagiando as pessoas ao redor. “O comércio é onde o tecnomelody é muito divulgado fora das aparelhagens. A Gang do Eletro usou esse vídeo para ‘vender’ mesmo esse lugar, onde as pessoas ouvem, compram e vendem o tecnomelody”, comenta Victória.

O clipe “Oswald Canibal”, de Henry Burnett, mostra a vida noturna dos bairros Cidade Velha e Campina e os seus personagens. O clipe é o único dos analisados que possui um enredo ficcional. Por fim, foi analisado o clipe “No Meio do Pitiú”, da Dona Onete. “O mercado e a pedra do peixe no Ver-o-Peso ganham destaque. Dona Onete canta vestida com roupa de carimbó, e casais dançam também caracterizados. Erveiras e frequentadores da feira aparecem interagindo com a cantora. Dos videoclipes estudados, este é o mais turístico e o que se tornou mais conhecido fora do estado”, conclui Victória Costa.

Ed.152 - Dezembro e Janeiro de 2019 / 2020

Adicionar comentário

Todos os comentários estão sujeitos à aprovação prévia


Código de segurança
Atualizar

Fim do conteúdo da página