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Resenha

Publicado: Quinta, 01 de Julho de 2021, 21h49 | Última atualização em Quinta, 01 de Julho de 2021, 21h49 | Acessos: 1493

 Sem Vieira nem Pombal ganha resenha no México

Por Walter Pinto Foto Reprodução

Resenhado na edição nº 150, de agosto/setembro de 2019, no Jornal Beira do Rio, o livro Sem Vieira nem Pombal - Índios na Amazônia do século XIX, do historiador e antropólogo Márcio Couto Henrique, professor da Faculdade de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, (PPGHist/UFPA), foi objeto de resenha publicada em uma das mais antigas e prestigiadas revistas mexicanas especializada em História, a Revista Historia Mexicana, do Centro de Estudios Históricos de El Colegio de Mexico, fundada em 1951.

A resenha, assinada pela antropóloga francesa Chantal Cramaussel Vallet, doutora em História e em História da Arte, professora do Centro de Estudos do Colégio Michoacón, México, aponta a importância do livro para a internacionalização da pesquisa produzida na UFPA. A internacionalização da produção acadêmica das universidades brasileiras, principalmente públicas, é um dos focos da Capes e item de valoração nos programas de pós-graduação. A circulação e a recepção internacional de uma obra, como o livro de Márcio Couto Henrique e de outros estudos realizados por pesquisadores da Universidade, afirmam a solidez e a maturidade da pesquisa histórica e científica realizada na Instituição.

Chantal insere o autor de Sem Vieira nem Pombal na corrente acadêmica que pensa os povos indígenas como sujeitos da história, inclusive durante o século XIX, quando imperaram as missões jesuíticas e franciscanas no Norte do Brasil. Apesar de parecerem “invisíveis” na historiografia depois da expulsão da Companhia de Jesus pelo Marquês de Pombal, em 1759, os índios surgem senhores de seus destinos ao longo dos dois últimos séculos, nas 260 páginas do livro. Essa presença contínua assinalada por Henrique contribui para fortalecer as demandas legítimas dos indígenas por reconhecimento e direitos, incluindo os povos que a legislação já não reconhece como índios, dado o longo processo de convivência com o colonizador europeu.

“Este livro oferece um panorama da história dos índios da Amazônia no século XIX depois do desaparecimento de seus principais e longevos protetores: o jesuíta Antonio Vieira (1608-1697), cuja fama no Brasil colonial é hoje semelhante à de Bartolomeu de Las Casas, e o Marquês de Pombal (1699-1782), o reformador português que teve um papel comparável ao de José de Gálvez na Nova Espanha”, afirma Chantal no início da resenha. Em seguida, trata da abordagem de Henrique sobre a aliança dos colonizadores com os índios Munduruku, responsável por boa parte do avanço imperial na Amazônia no século XIX, embora nem todos os índios desse grupo tenham permanecido fiéis ao governo brasileiro, como explica o autor.

“O processo de colonização foi interrompido em 1835 pela sangrenta rebelião chamada Cabanagem, em que os insurrectos, em boa parte índios desenraizados, ocuparam durante seis meses Belém, a capital do Grão-Pará, e ameaçaram a presença do império na região amazônica”, sintetiza a resenhista. “Encerrada a insurreição, pouco a pouco os índios se envolveram no comércio da borracha, da farinha de mandioca, do guaraná (um estimulante como o café, originário da Amazônia) e, depois de 1860, no abastecimento de lenha para os barcos da navegação a vapor”.

A autora observa que “o livro de Márcio Couto Henrique incorpora importantes trabalhos seus publicados nas duas últimas décadas”. Cita a estruturação da obra em quatro capítulos, destacando a história anterior ao Decreto 1845, de normatização da atividade missionária, confiada aos capuchinhos, que se multiplicaram na Amazônia durante a segunda metade do século XIX e sua relação com o poder civil. Trata da política do governo para os indígenas e conclui com o estabelecimento do comércio entre índios e colonizadores, entendido pelo autor como importante via de penetração junto aos povos da região, enfatizando os vínculos dos índios com os mercadores.

“Ao longo do livro, se destacam as estratégias implementadas pelos indígenas nesse renovado processo de colonização. No capítulo 3, se explica, por exemplo, como os objetos considerados brindes foram, na realidade, ressignificados pelas sociedades indígenas(...)”, pontua Chantal. “Os índios fingiam, muitas vezes, deixar a selva em troca desses presentes [ferramentas metálicas, tabaco, álcool, contas de vidro, espelhos e sal], prometendo assentar-se nas missões. Mas, não o faziam imediatamente, senão quando iam comercializar ou participar de algumas festas”. Nas missões, os indígenas comercializavam tanto excedentes agrícolas como produtos da selva, com destaque ao caucho.

A resenha chama a atenção para o papel desempenhado pelos regatões, descrito por Henrique: “os inimigos dos missionários e seus competidores no comércio eram os regatões, indivíduos originários de muitos países que praticavam trocas com os índios. As autoridades sempre autorizaram esse negócio sobre qual cobravam pesados impostos, o que gerou ao mesmo tempo um constante contrabando, difícil de controlar nos labirintos fluviais da Amazônia (...)”. O resultado dessa intensa e longa convivência com o colonizador foi o aprendizado da língua portuguesa e dos costumes do mundo europeu. Os índios “já não foram identificados por seu grupo étnico. (...) com frequência, a documentação oficial os considerou mestiços (chamados caboclos no Brasil, por ser resultado da união de brancos com índias)”. Chantal enfatiza que só uma investigação acurada como a empreendida por Márcio Couto Henrique permite reconhecer e restituir aos povos indígenas atuais um passado que havia sido apagado.

A resenhista destaca “a extensa bibliografia” de 32 páginas que Márcio Couto Henrique oferece ao final do livro, por representar “um guia para todos aqueles que buscam adentrar na história e na antropologia da Amazônia no século XIX”. Surpreende-se, porém, com a grande quantidade de estudos da última década do século XX e do século XXI, sobre os índios brasileiros, relacionada pelo autor, entre livros e teses produzidas sobretudo em universidades brasileiras. Ela também se refere a nexos entre a pesquisa de Henrique e processos históricos ocorridos em outros países da América, que podem surpreender pesquisadores estrangeiros da história indígena, processo que fortalece a inserção da pesquisa científica da UFPA no mundo.

Acesse e leia:

A resenha de Chantal Cramaussel na Revista Historia Mexicana

A resenha de Walter Pinto no  Jornal Beira do Rio 

Beira do Rio edição 159

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