Tecnologia a favor da tradição
Projeto fortalece preservação do pirarucu na Região Norte do Brasil
Por Armando Ribeiro Foto Acervo do Pesquisador
Considerado por muitos o maior peixe de água doce do Brasil, o pirarucu pode medir 2 metros de comprimento e pesar até 200 kg, e é visto como um dos símbolos da Amazônia. A espécie pode ser encontrada ao longo da bacia amazônica, principalmente nos ambientes com lagos e várzeas, onde a correnteza é fraca. Esse “gigante” tem a peculiaridade de vir à superfície de tempos em tempos, para captar oxigênio.
Apesar de sua importância, essa espécie tem sofrido com a pesca predatória e apresenta declínio populacional na região desde 1950. Com a preocupação de apontar modos de preservação do pirarucu, surgiu o Projeto “Pirarucu da Amazônia: Pesquisa e transferência de tecnologias”, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com o Instituto de Estudos Costeiros (IECOS/UFPA). “Nosso objetivo é entender, desenvolver, aperfeiçoar e transferir conhecimentos associados ao pirarucu, de maneira a fortalecer e a incentivar a criação sustentável da espécie e a conservação das populações naturais”, explica Juliana Araripe Gomes da Silva, pesquisadora responsável pelo projeto.
A pesquisadora relata que a época de seca é o período de procriação dos pirarucus e é nesse período que eles ficam mais vulneráveis à pesca. A espécie sofreu uma exploração intensa e descontrolada por muitas décadas, essencialmente entre os séculos XIX e início do XX, e foi considerada extinta em algumas regiões, gerando redução no desembarque desses peixes em centros urbanos, como Santarém (PA) e Manaus (AM).
Em resposta a esse fenômeno, o governo criou diversas restrições à exploração do pirarucu: o tamanho mínimo de captura para a comercialização passou a ser 150 cm; a proibição da pesca durante o período de defeso (reprodução) da espécie, que varia de acordo com a região (no Pará, por exemplo, esse período é estipulado entre 1° de dezembro e 31 de maio).
Além dessas medidas, as principais estratégias para a recuperação da espécie é o manejo participativo, desenvolvido por populações ribeirinhas, e a criação em cativeiro. Esse modelo foi desenvolvido, inicialmente, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, e hoje se estende por diversos locais, onde a pesca do pirarucu é importante. “Os governos deveriam estimular mais atividades que possam subsidiar a pesca manejada, tais como ampliar o conhecimento sobre a pesca, capacitar as comunidades diretamente envolvidas no processo com informações sobre a biologia da espécie e o seu manejo adequado”, avalia Juliana Araripe.
Caracterizados mais de 20 estoques de manejo participativo
A pesquisa se divide em processos de análise, que são engorda, genética, nutrição e sanidade. Com isso, o estudo propõe a realização de atividades direcionadas ao ensino de boas práticas de tratamento dos animais; investigação e aprimoramento das ferramentas genéticas; formulação de rações específicas e composições que melhorem o trato digestório da espécie; além de avaliar o sistema imunológico e o controle parasitário do peixe.
A professora Juliana Araripe atua na área de análises genéticas dos pirarucus. A proposta é usar marcadores genéticos microssatélites, que servem para diferenciar indivíduos pelo DNA. A partir disso, são determinados os perfis genéticos de pirarucus provindos de diferentes criações nos Estados brasileiros. Esses dados serão comparados com pirarucus de populações naturais e, assim, ocorrerá a transferência de conhecimento para quem cria a espécie em cativeiro. “Esperamos desenvolver um sistema de rastreamento para a espécie em que, a partir do perfil genético, poderemos identificar a sua origem”, revela a pesquisadora.
Alguns resultados obtidos mostram a caracterização dos estoques de mais de vinte pisciculturas das Regiões Norte e Nordeste, em que algumas indicavam níveis de diversidade genéticos muito baixos, o que pode comprometer a viabilidade desses animais. Além disso, também já foram identificados alguns alelos que podem ser úteis no processo de rastreamento dos pirarucus, gerando um painel de marcadores SNP por meio de sequenciamento da nova geração. A técnica permite fazer inferências refinadas sobre a espécie, tanto na natureza como em cativeiro.
Serviço: O SEBRAE disponibiliza um manual de boas práticas para o manejo e o cultivo do Pirarucu. Ele pode ser acessado aqui: http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/7ce01b2624c82f78849858279ff1b2cd/$File/4534.pdf
Ed.146 - Dezembro e Janeiro de 2018/2019
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Pirarucu da Amazônia: Pesquisa e transferência de tecnologias
Pesquisadora responsável: Juliana Araripe Gomes da Silva
Projeto de pesquisa: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com o Instituto de Estudos Costeiros (IECOS/UFPA)
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