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Alternativa para o inverno

Publicado: Segunda, 09 de Abril de 2018, 14h35 | Última atualização em Segunda, 09 de Abril de 2018, 17h48 | Acessos: 3721

Em Abaetetuba, fruto do miriti é fonte de renda na entressafra do açaí

Pesquisa foi realizada em duas comunidades na ilha de Sirituba, em Abaetetuba (PA).
imagem sem descrição.

Por Nicole França Foto Acervo da Pesquisa

O município de Abaetetuba é reconhecido como um dos maiores produtores de açaí no Pará. Entretanto, durante o inverno amazônico, quando o produto se encontra fora de safra, a população abaetetubense busca um substituto, o miriti. A dissertação Miriti: o açaí do inverno? Extrativismo, comercialização e consumo de frutos de Mauritia flexuosa L.f. no estuário amazônico, defendida por Fagner Freires de Sousa, no Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA/INEAF/UFPA), mostra como isso acontece.

A pesquisa, orientada pelo professor Flávio Bezerra Barros, foi realizada em duas comunidades da ilha de Sirituba, em Abaetetuba, com o intuito de analisar o potencial do extrativismo do fruto de miriti, praticado por famílias ribeirinhas. Durante a pesquisa de campo, Fagner Freires acompanhou todas as atividades referentes ao extrativismo, ao beneficiamento e à comercialização do miriti.

“O miriti se mostra importante para a população local não só no campo simbólico e cultural, revelado pela relação que é estabelecida entre os extrativistas e as palmeiras, que recebem nomes de pessoas importantes da família e são ‘respeitadas’, garantindo a conservação da biodiversidade na várzea, como também no campo econômico e social, uma vez que o extrativismo do miriti, durante o inverno, além de ser fonte de alimento, é a principal fonte de renda de mais de 85% das famílias ribeirinhas que praticam essa atividade”, afirmou o pesquisador.

As atividades relacionadas ao extrativismo do miriti são realizadas por homens, mulheres e crianças maiores de seis anos. As tarefas que requerem grande esforço físico são divididas de acordo com o gênero e a idade.  

O fruto do miriti é utilizado na alimentação diária da população de Sirituba, sobressaindo o consumo do fruto como mingau e como substituto do açaí. “Rotineiramente, também se consome o fruto in natura ou ‘mole’, após ser submetido a tratamento térmico para amolecimento da polpa”, explica Fagner Freires.  O mingau também é comercializado por vendedores naturais da região das ilhas, de onde vem o costume passado de geração em geração.

Relação de reciprocidade garante preservação da palmeira

De acordo com Fagner Freires, a relação entre os ribeirinhos e a palmeira do miriti é uma relação de reciprocidade. É comum as pessoas dizerem que o miriti é uma palmeira santa, e é essa relação que garante a conservação da palmeira nas florestas de várzea da região, uma vez que a reciprocidade requer a retribuição pelo que a palmeira lhes dá; assim, elas são mantidas mesmo diante da pressão pelo aumento da produção do fruto.

O mercado extrativista de Abaetetuba é concentrado no açaí, mas, durante o inverno, o miriti representa 80% da renda mensal dos extrativistas-beneficiadores de Sirituba. O fruto também gera certa  autonomia aos ribeirinhos. Segundo Fagner, a comercialização do miriti promove uma movimentação estimada em R$ 172 mil.

O pesquisador constatou que os extrativistas que comercializam somente a “massa” (polpa in natura do fruto) para clientes fixos conseguem, em média, uma renda mensal de R$ 1.179,97, enquanto os que comercializam na feira conseguem entre R$ 540,00 e R$ 748,03 por mês. “A renda média total da safra do miriti varia entre R$ 2.160,00 e R$ 4.719,88, por família. Tais valores aproximam-se dos registrados na comercialização do açaí em ilhas do estuário amazônico que apresentam sistemas com manejo moderado”, esclareceu Fagner.

“Normalmente, os circuitos de comercialização se formam a partir de relações sociais estabelecidas entre os diversos atores que os compõem e contam com a influência de laços de amizade e parentesco. Dessa forma, predominam os laços sociais e os valores éticos que possibilitam firmar e manter prósperas as trocas comerciais”, conclui.

Ed.142 - Abril e Maio de 2018

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Dissertação Miriti: o açaí do inverno? Extrativismo, comercialização e consumo de frutos de Mauritia flexuosa L.f. no estuário amazônico.

Autor: Fagner Freires de Sousa

Orientador: Flávio Bezerra Barros

Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA/INEAF/UFPA)

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