o sentido de estudar Matemática
Tese discute o porquê do ensino da disciplina em escolas.
Da redação Foto John Evans / Free Images
Partindo da constatação de que as discussões sobre o ensino da Matemática e seu aprendizado problemático são constantes, o professor do Instituto de Ciências Exatas e Naturais Paulo Vilhena da Silva escreveu a tese Qual o sentido de estudar matemática na escola? O que dizem professores e alunos? apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemáticas, do Instituto de Matemática e Educação Científica da UFPA, sob orientação da professora Marisa Rosâni Abreu da Silveira.
A pesquisa teve como objetivo analisar qual a concepção de professores e alunos sobre o sentido de se estudar Matemática na escola e argumenta que se estuda a disciplina não apenas para utilizá-la em atividades cotidianas, mas também como possibilidade de socialização do saber desenvolvido pelos homens ao longo da história.
Segundo o professor, para solucionar os problemas de aprendizado da Matemática, alguns pesquisadores procuram considerar a cultura e os costumes de diferentes grupos, utilizando o conhecimento extraescolar, ou seja, situações concretas da vida dos alunos, como uma maneira de tornar a disciplina interessante, útil e contextualizada. No entanto essa perspectiva pode levar à crença de que só o que é imediatamente aplicável na vida dos estudantes deve ser estudado.
Paulo Vilhena da Silva explica que esse olhar é ingênuo, romantiza a prática pedagógica e acaba sugerindo que o aluno só será feliz, criativo e livre se aprender o que está em seu cotidiano. “Esse discurso faz parecer que, se o conteúdo não puder ser contextualizado de maneira imediata no cotidiano do aprendiz, ele não deve ser ensinado na escola”, afirma.
A pesquisa foi realizada na Região Metropolitana de Belém e participaram 194 alunos, além de professores, que deram sua opinião de forma escrita, sobre o motivo do ensino da Matemática nas escolas. O autor da pesquisa conta que conversou com alunos de dez turmas do ensino fundamental, ensino médio regular e da Educação de Jovens e Adultos (EJA). “Dos alunos, de maneira geral, recebemos redações bem diversificadas: alguns diziam que adoravam Matemática, outros diziam que não gostavam; alguns elogiando o professor, outros reclamando dele”, conta Paulo Vilhena.
De acordo com o pesquisador, a resposta mais comum dos discentes estava relacionada à importância da disciplina para o dia a dia e para o mercado de trabalho. Segundo Paulo, a fala dos alunos revela o que o senso comum ensina: o conteúdo deve ser aplicado nas atividades cotidianas, como as que envolvem relações monetárias. “Porém, se nos detivermos ao que é útil de forma imediata e observável, a escola perde o sentido”, alerta o pesquisador.
Criatividade pressupõe apropriação de saberes
Segundo Paulo Vilhena, pode-se pensar na importância do conteúdo escolar não apenas nas aplicações práticas e imediatas, mas também na diferença que o conteúdo fará na vida e na formação dos sujeitos.
Segundo o pesquisador, há um discurso sobre incentivar a criatividade dos alunos, porém, para ser criativo, é necessária a apropriação dos saberes. “Quanto mais os alunos enriquecem o mundo de significados, quanto mais aprendem, mais eles podem ser criativos e compreender a realidade de maneira menos rasteira. Essa é a importância de estudar, não só a Matemática como também todos os saberes”, avalia.
A pesquisa foi realizada com docentes de todas as disciplinas. Além de falar sobre formação acadêmica e atuação na escola, eles também responderam à pergunta “Em sua opinião, qual o sentido de estudar Matemática na escola?”. A maioria dos professores acredita que os conceitos matemáticos devem ser aplicáveis no cotidiano. Outros afirmam que o ensino da Matemática é necessário para o desenvolvimento do raciocínio lógico, a abstração e a formação como ser humano.
“Se o ensino da Matemática não tem alcançado o sucesso esperado, trata-se de discutir maneiras mais produtivas de acesso à disciplina”, diz Paulo Vilhena. O pesquisador defende que a escola não apenas deve se deter a ensinar o que é útil, mas também deve se preocupar em socializar os conhecimentos matemáticos clássicos elaborados pela humanidade, como meio de desenvolver sujeitos com níveis superiores de entendimento da realidade, permitindo que o aluno compreenda e lute pela superação das contradições presentes em nossa sociedade.
Ed.142 - Abril e Maio de 2018
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