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Arqueologia musical na Amazônia

Publicado: Quinta, 13 de Abril de 2017, 13h56 | Última atualização em Quinta, 13 de Abril de 2017, 15h13 | Acessos: 5806

Pesquisadores estudam instrumentos tapajônicos e marajoaras

Peças do acervo são antropomorfas, zoomorfas ou híbridas
imagem sem descrição.

Por Renan Monteiro Foto Alexandre Moraes

Os povos originários e tradicionais do Brasil sempre tiveram uma íntima relação com a produção musical e sonora. O som esteve presente em momentos muito relevantes das práticas culturais desses povos, seja em rituais, cerimônias, seja em atos xamânicos. Mesmo hoje, com todas as mudanças sociais e culturais, existem comunidades indígenas que mantêm suas práticas musicais.

Partindo desse contexto e especificando essa relação entre sociedades remotas e atividades sonoras, a pesquisadora Líliam Barros, do Programa de Pós-Graduação em Artes, do Instituto de Ciências da Arte (ICA/UFPA), coordena o Projeto de Pesquisa Arqueologia Musical na Amazônia. O trabalho desenvolve-se em parceria com o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e com o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O projeto tem como objetivo o estudo dos instrumentos musicais das culturas pré-cabralinas, analisando acervos tapajônicos e marajoaras encontrados no Museu Paraense Emílio Goeldi, no Museu Nacional da UFRJ e no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.  A pesquisa está dividida em quatro fases: o levantamento bibliográfico e documental com a literatura arqueológica existente, a análise organológica (classificação dos instrumentos musicas) das coleções, a confecção de réplicas das peças e a criação de um catálogo.

Na primeira fase do projeto, Líliam Barros utilizou, como fontes bibliográficas, relatos coloniais de padres, como os da Companhia de Jesus, que deixaram informações de fatos documentados por onde passaram. “O projeto tentou contextualizar os instrumentos com a documentação já existente, identificando, assim, padrões do processo de sonorização”, explica. No entanto a pesquisadora ressalta que é preciso “filtrar” essa fonte histórica, pois os jesuítas tinham uma visão etnocêntrica e não consideravam como musical as práticas dos povos antigos, e sim como práticas demoníacas.

 Réplicas foram confeccionadas por mestres de Icoaraci

As peças analisadas têm características peculiares. Muitas são antropomorfas (características humanas), zoomorfas (formas animalescas) ou híbridas. ‘‘As formas que estes instrumentos adquirem estão bastante relacionadas com os caracteres cerimonial, xamânico e transformativo que permeiam as práticas musicais’’, esclarece a pesquisadora. 

Com base na análise organológica, foi verificado que grande parte dos instrumentos analisados foi classificada como idiofônico, aqueles que geram sons com o atrito do seu próprio corpo ou com objetos de entrechoque, como fragmentos de argila encontrados em seu interior. Outras peças foram classificadas como aerofones, aquelas que dependem do ar para a geração do som.

Para a confecção das peças, os pesquisadores procuraram os ceramistas do distrito de Icoaraci, em Belém, com experiência em produção de réplicas de cerâmicas marajoara e tapajônica. Em fevereiro de 2015, foi feito o convite aos mestres Inez Cardoso e Levi Cardoso para confeccionarem réplicas dos instrumentos musicais constantes nos acervos da Reserva Técnica Mario Simões do MPEG.

‘‘Nós optamos em fazer as réplicas para manipular o som. Esses sons foram gravados e nós pretendemos criar um banco de dados no site do Laboratório de Etnomusicologia da UFPA’’, explica Líliam Barros. Foram confeccionados dois conjuntos com 13 peças representativas do acervo do MPEG. “Um conjunto ficou no LABETNO/UFPA; e o outro, no MPEG”, conta a professora.

No Brasil, o projeto é um dos pioneiros no estudo sobre a música dos povos indígenas antes da invasão europeia. “Este tipo de pesquisa pode subsidiar outros estudos sobre essas populações. Além disso, estudar os povos passados é necessário para compreendermos o nosso próprio presente’’, avalia. O catálogo das réplicas – que consiste na quarta fase do projeto – tem previsão de lançamento para este ano.

Ed.136 - Abril e Maio de 2017

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