Cidades médias apresentam crescimento desordenado
Faltam políticas que garantam a qualidade de vida da população
Da redação Foto Bruno Magno
A Usina Hidrelétrica de Belo Monte será a terceira maior do mundo e a segunda maior do País, com capacidade de abastecer 40% do território em energia firme. Diante do discurso do crescimento econômico, estão os impactos socioambientais que a construção dessa usina tem acarretado. Esse grande canteiro de obras está instalado no Rio Xingu, próximo a Altamira (PA), que possui mais de 100 mil habitantes, segundo dados do último censo do IBGE, de 2010.
Na cidade, faltam infraestrutura e serviços básicos, como saneamento. O grande número de famílias que foi para Altamira em busca de emprego intensificou a ocupação desordenada, o surgimento de favelas e o aumento da criminalidade, entre outras mazelas. Altamira é o exemplo mais evidente, na atualidade, dos impactos dos grandes projetos e de como o crescimento econômico traz, na sua bagagem, sérias consequências.
A mineração, a indústria e o agronegócio também contribuem para o crescimento da economia em outros municípios que enfrentam, por sua vez, problemas semelhantes. A cidade de Marabá, no sudeste paraense, vem alcançando crescimento vertiginoso em vários setores, principalmente na indústria e na exportação do aço. Mas pesquisas apontam que esse intenso crescimento afeta negativamente a qualidade do meio ambiente e expõe a população dessa área a riscos sociais e ambientais. Esses gargalos podem comprometer, seriamente, a sustentabilidade do desenvolvimento local.
O que há de comum entre esses dois municípios? Eles são considerados cidades médias, ou seja, “aquelas que desempenham funções de intermediação na rede urbana, que assumem um importante papel regional, sendo uma espécie de ‘elo’ entre os menores espaços urbanos e as grandes metrópoles, difusora de influências na sua área regional nos aspectos econômicos, políticos, sociais, culturais”, como explica o pesquisador e professor da Faculdade de Geografia da Unifesspa – Campus Marabá Marcus Vinicius Mariano de Souza.
Crescimento econômico x bem-estar social
O crescimento econômico que vem ocorrendo nas cidades médias nem sempre pode ser traduzido em bem-estar social. “A impressão de prosperidade econômica atrai pessoas para as cidades médias, que nem sempre serão imediatamente inseridas no mercado de trabalho. Um elemento que agrava essa situação é a ausência de planejamento por parte do poder público, que não consegue transformar o crescimento econômico em qualidade de vida”, aponta o pesquisador Marcus Vinicius Mariano de Souza.
Diante da falta de planejamento, os maiores problemas enfrentados por cidades como essas, a exemplo de Marabá, são o agronegócio (atividade altamente concentradora de renda e de terras), a especulação imobiliária e a ineficiência do transporte público. Com o elevado preço do solo, os habitantes com menor renda buscam por áreas cada vez mais periféricas, longe dos serviços urbanos. E a solução para o problema da locomoção é o transporte individual, aumentando a circulação de veículos quando as ruas dessas cidades não têm capacidade de receber esse grande fluxo.
Demandas sociais – As pesquisas, baseadas na experiência de Marabá, revelam que a cidade está crescendo em seu tecido urbano, mas, por outro lado, os interesses empresariais e de proprietários de terras acabam se sobrepondo às demandas sociais. De acordo com o professor Marcus de Souza, “a área urbana se expande, mas esta expansão não é acompanhada por um aumento do número de escolas, de postos de saúde, de linhas de ônibus, de equipamentos públicos, o que, em um futuro próximo, poderá acarretar mais ônus do que bônus à cidade. E esse processo não é exclusivo de Marabá. A situação é parecida com a de outras cidades médias do Brasil”.
Marcus Vinicius Mariano de Souza também observa os problemas que envolvem a qualidade ambiental urbana, o planejamento urbano e as políticas públicas em Marabá. “Percebemos que existem diversos problemas que afetam diretamente a qualidade de vida da população, como reduzidas áreas verdes e de espaços públicos de lazer, arborização urbana praticamente inexistente, entre outros”, revela o professor.
Feita essa observação, foi elaborada uma “Carta de Qualidade Ambiental” para a Marabá Pioneira - área mais antiga da cidade -, dentro do Projeto Carta de Qualidade Ambiental da Marabá Pioneira: retratos do presente, cenários do futuro. O documento teve como objetivo servir de instrumento para buscar a qualidade de vida da população da área analisada. “A ideia é mostrar como a Geografia pode contribuir para políticas públicas eficazes. O boom econômico das cidades médias, nos últimos anos, encontrou essas cidades despreparadas em termos de infraestrutura, serviços básicos e saneamento, por exemplo, o que se reflete em diversas mazelas sociais”, avalia o pesquisador.
Ed.149 - Junho e Julho de 2019
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